BEBETE BEZOS

(Mauricio Salles Vasconcelos)

Episódio 9

Em andamento de folhetim, segue no LÁPIS o Post Tela-Romance Bebete Bezos (Episódio 9).

O projeto se centra numa recriação, no feminino, de Beto Rockfeller (telenovela emblemática em seu experimentalismo), acrescida de motivos romanescos extraídos de autores como Alfred Döblin e Witold Gombrowicz. Em pauta, se encontra uma atualização de personagens do século XX instalados na época multimidiática gravitada em torno dos domínios de imagem/influência/informação tal como configura Jeff Bezos com seu diversificado, abrangente império empresarial (em correspondência neomilenar com o que Nelson Rockefeller exercia nos anos 1960 sobre o protagonista de Bráulio Pedroso).

 

Mauricio Salles Vasconcelos

Dessa vez, integrada à plateia para assistir a uma exibição saída de sua experiência em vários lugares de morar e ganhar a vida, ela, acompanhada de Mazé, encontra pessoas já tão queridas como Mamãe Karmann –

Brigite/Brites –

Uma senhora totalmente interessada em acompanhar os andamentos itinerantes da Firma que também é sua, à qual deu trégua quando resolveu se enfurnar no território rural. Bem onde marcou morada, mas também traz, sem chance de descarte, o chicote em defesa de seu patrimônio –

Desde quando foi açoitada pelas vizinhas proprietárias da terra em luta até a conquista do vasto terreno florido, apascentado por animais nomeados um a um, companheiros de um remanso, a um só tempo posto-de-guerra nunca findado.

 

Brigite chegou mesmo a mostrar para BB seu dorso chicoteado por um bando de mulheres em arenga por conta de um palmo do terreno mais fértil da propriedade em fronteira imprecisa, passível de demanda –

“Logo mulheres, entorpecidas pelo dom de mando, não saem de um palmo do que existe como motivo obsessivo de posse, tomada de poder em redobrada violência”

 

Cicatriz-tatuagem-desenho de um mapa inexistente (de mulher para mulher) instalada nas costas de Brites Bastos Karmann (a indignada, ultrafotografada senhora munida de seu chicote)

 

Vem daí, também, a concepção de OS CATADORES DE ESPINHOS

 

Mulheres-entre-si guerreiam no combate ao desejo dominante. Enredam-se, contudo, na forma guerreada vigente. Quando outro universo de coisas, palavras e modos de ser pede para se renovar para lá das figuras de machos montados em lugares visíveis.

 

 

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Por ocasião da primeira oportunidade de Kuki apresentar sua veia propositiva a partir de Urbanismo, interligada a viagens para o exterior em espaços consolidados de emissão acadêmica e visibilidade internacional, sua mãe tinha em mente a problemática amorosa que o rapaz estava atravessando. Simplesmente, Pareto tomou o mesmo avião que ela rumo à Cidade do México. Odila bem sabia da perseguição que o ex-amante de Kuki desenvolvia, sem querer largar a pele, o osso, o mínimo de conforto proporcionado por uma “relação” (“relâmpago” como foi aquela, porém desnorteadora da rota dos 2 homens) aqui e ali algo escandalosa.

Causa, portanto, um sentido de paz tão-logo O.K bate os olhos em Bebete saída das mãos do marido para um abraço duradouro em Kuki. É o que se confirma assim que a apresentação da Primeira Cabine se encerra ao longo dos Atos integrantes de

OS CATADORES DE ESPINHOS

 

Resolve-se numa só piscada de olhos o desapego de Mazé em relação a Bebete, como também a atração nascente surgida bem ali – Barra Mar Aberto Mall – entre a garota e o primogênito (protagonista de histórias confusas de sexo, alardeadas por aprontos grupais e um irresolvido caso com Duse, a afilhada de toda família). É possível presenciar um beijo roubado.

Bebete toma a boca de Kuki e ele brinca expondo ao longo da língua o chiclete que ali se estica, fica e cria prega vindo da garota-goma-de-mascar.

 

 

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De um para o outro, um prolongado beijo (efeito-chiclete de bola, brinquedo antigo, divertido mascar do velho tempo juvenil jogado ora para frente cada vez mais para trás de um arriscado intento numa hora imprevista)

 

“Tem hora que a ambivalência cansa, emperra o fluxo da vida de alguém”

 

“Já é hora de Kuki arrumar uma pessoa (do sexo que vier). Mais constante (esse é o ponto). Sem deixar de ser sempre interessante algo duradouro, capaz de dar mais impulso a projetos, os mais pessoais que sejam, contando com um solo bem fundado.

Impossível, impensável, um gasto incessante da própria energia e dos recursos de todos. Festa, foda, folia de droga e troca-troca indeterminadamente!

Nós adoramos eventos, disso sobrevivemos inclusive, mas até aí há finalidade. Foco”

 

/Os pais assim conversam desde muito tempo. Cada um repete as palavras do outro numa espécie de trança indispensável para que se ponham unidos, untados pelo desgaste causado por inúmeros desvios na duração pensada para suas vidas, concebidas em duos, duetos de filhos inclusos/

 

Tata, por exemplo, nada tem a ver com firmadas formas de sexo, senso nenhum de casamento, consórcio com qualquer outra criatura, senão composições de parcerias para realizações coletivas (impensáveis através de simples duplicações). É aí que encontra solo. Quando quer alguém, sabe escolher bem – os melhores experts em maratonas amorosas (alguns atletas, astros do Erotismo) – alguém invariavelmente desfrutado na encolha (como se fosse a eterna investigadora solitária). Pois bem daí que tira força, num anonimato incapaz de desfazer a solidez de projetos com vultosa assinatura, totalmente apartada de qualquer tipo de vínculo permanente com alguém mais.

Senão o próximo homem a gozar, sem rosto, nem nome

A energia geradora de coisas, currículos, cerimônias as mais diferentes, provém apenas dela.

Prazer conduz rapidamente a poder, prisão na mão dum outro gozoso, pressupostamente destinado às delícias.

(Mesmo ao alcance do pico não passa de sensação libertária pela posse. Com ela, não, não mesmo, Tata).

– Quando você cita Jeff Bezos – Bebete é o seu nome, não? – está atenta ao caráter organizado de um empresariamento? Bezos me parece bem distante de uma formulação de performance!

 

A especialista em InfoSSemiose intervém no folguedo de chiclete boca-a-boca entre B. e seu irmão (na prévia de um engatado fôlego do desejo para algo além do que não está ali)

 

– Você é Tata!! Pois é, soube de sua formação em Palo Alto. Tenho um grande interesse em sondar o que a tecnologia difunde e nomeia no espaço do comércio. Justo aquilo impensavelmente capaz de ser vendido.

 

/Bem sabe Kuki das intermináveis inspeções da irmã acerca das mulheres e homens que o cercam, dotados de influência, incandescência, para levá-lo a internamentos psi de longa data. Por tal razão, ele se aferra aos intervalos de boca, fala e carícias permitidos por Bebete em conversa com Tata. Vêm, então, um chiclé, um roçar de língua, numa demonstração de autonomia em face de família, crivo analítico, risco de fusão com outro humano/

 

Só nos resta provocar um toque performer diante da concentração de tanto domínio.

Não à toa, Maga Mega faz multiplicar relações contrárias a uma ideia homogênea, hegemônica, de Era Técnica. Escapa de uma noção predominante de vida-arte off line.

 

 

– Isso é evidente, sou consultora e curadora de muitos acontecimentos relacionados com a Revista. Por isso mesmo a pergunta: Bezos não é o exato avesso do que pode performar uma nova época? Justo uma figura centralizadora, sumamente corporativa?

 

– Bem aí, estamos situados, sem que isso paralise, crie blindagem.

Bezos passa por uma espécie de desfiguração quando dele fazemos cenas. Até mesmo um certo falseamento do que parece único, utilitário num universo de orbitações sem-fim e ofertas instantâneas.

 

(Ela e Kuki não mais interrompem com beijos a encadeada conversa)

 

Curioso, ver numa era de cultura digital definitivamente implantada, o modo como se convoca todo tipo de participação em tempo presente.

O real se propaga em dimensões visíveis ou não. Vejo aí um desafio às dominações do poder econômico, tendo o horizonte técnico como baliza.

 

– Baliza. Engraçada, a palavra, Bebete. Em desfiles escolares, patrióticos, comunitários, em certo tempo havia sempre uma garota-de-frente. Garota-de-Afronta? Esse era o nome reservado à demonstradora (é bem essa a palavra) de uma pretensa performance coletiva.

 

(Kuki passa a bola de mascar para sua parceira de brinquedo e beijo. Evita tê-la de novo entre os dentes e o macio das línguas).

 

Assim, também, compreendo uma figura como Bezos, em correspondência no masculino com um alinhamento infindável de gente numa comemoração que não ultrapassa o intuito de abarcamento.

Baliza Bezos (Bebete mantém o chiclete mastigado juntamente com Kuki na ponta da língua enquanto escuta sua nova interlocutora. Não há mais beijo).

 

Não há qualquer alteração dentro do Programa Bezos no que toca à disposição de objetos em mescla.

São todos tomados: pessoas, produtos, promessas de congraçamento em louvor ao imediatamente englobador, global, enfim.

Um desfile infinito de possibilidades, em louvor de necessidades aparentemente atualizadas, urgentes. É só isso possível de se ver. Como  acontecesse o ingresso na promessa de um tempo nunca visto. Apenas para o dia de hoje.

Só que há mofo aí, coisificação, reciclagem. Estandes em segmentos-de-vendas, seja o que for.

 

Nada ultrapassa Abarcamento/Atravessamento

Por mais que o empreendedor esteja agora em páginas e letras recorrentes de um livro-complemento de tendências gerais, viáveis num só toque-acesso.

 

  Bebete cospe a goma tornada gosma no mesmo jato das palavras surgidas em elástica incidência sobre o ato de Tata lhe dar as costas, abarcando também Kuki no rompante de dizer e tentar perdurar a frase “letras recorrentes de um livro”:  Diante de tanta presença e poderio entre coisas, palavras e pessoas as mais diferentes, sabe Tata?

Não é por nada, não –

De repente, passei a ser Bebete Bezos.