ATOS DE TEORIA/CENAS DE LITERATURA

(Mauricio Salles Vasconcelos)

ATOS DE TEORIA/CENAS DE LITERATURA

Mauricio Salles Vasconcelos

Fazemos a arte mais difícil de ser vista. Não obstante a imediaticidade trazida pela forma-livro – viabilizada numa tradução eletrônica pelo formato kobo, corroborando a dimensão portátil, o tato/contato com algo que se tem à mão –, a escrita requer uma concentração e um ingresso mais duradouro em seus desdobramentos sequenciais para que possa ser apreendida in totum.

Em face dos modos menos prolongados de apreensão, tocados por dínamos de velocidade que se compassam com os ritmos cotidianos de vida, sob o timbre de uma consolidada cultura digital, influente na recepção da arte agora em veios multiplicadores de acesso, a literatura não deixa de gravitar em torno de um plano mais recôndito de leitura. Impele a remissão a um universo milenar lavrado pelo fator impresso, disposto à volta da interioridade e da solitude de um scriptor/receptor. Tem como pano-de-fundo a imagem tão ordenada quanto heterodoxa da biblioteca em sua voltagem combinatória de coleção/constelação. O que é passível, pois, do referendo assim como da extemporaneidade, do corte bifurcado, sempre em gradação, experimentação – tal como Borges e Blanchot desbravaram com base num repertório ancestral, no entanto intempestivo, interventivo na ordem menos prevista de temporalidade e classificação do que-se-lê. Por força dos diferentes modos de autorrelatar-se (num código cerrado de comunicantes/intercambiantes hiperficcionalizações) como também de se descentrar na fabulação do livro sempre por vir.

Enunciação/transmissão/transitividade

Por meio de um périplo prolongado, disperso, não-visivo, na maneira de ser acolhido, recepcionado.

Não à toa, Walter Benjamin, em “O narrador”, não deixa de ser revisitado, para lá do elogio do narrar em detrimento dos objetos técnicos que hoje viabilizam o relato e sua audiência. Pois se mostra inerente à arte do verbo, configurada em consecução narrativa ou na linha vocal-coral poemática, o ato de sua feitura conjuntamente com o itinerário de sua transmissão, de sua transitividade através de uma disposição escritural. Em tal eixo, a literatura move a engrenagem de sua problemática sempre atualizadora de meios e contextos. Eis o que está em pauta, pondo-se em relevo o lugar do emissor/autor em tal empreendimento direto (de base oral, perdurado, entretanto, por procedimentos de tradução verbal) e a um só tempo distanciado, obscuro, esparso, para o alcance da recolha de seu tramado enunciativo, de sua arquitetura escrita. Diz respeito a ser lido, como bem resume a kafkiana “Mensagem Imperial”, de maneira ambivalente, o lastro-matriz e a modulação moderna da literatura. Um labirinto de transmissões, cujo sentido repousa em tal suspensão emissiva (de acordo com o mencionado conto de Kafka), trilhada por um encaminhamento sinuoso e incessante, jamais encerrado, de fato. Quanto mais se recorre ao conjunto, ao volume que o compactam (à mão). Enquanto se desenrola, paralelamente, a instantaneidade (de base oralizante) advinda da voz (não adstrita a um só emissor, a um visível transmissor) que narra (ou canta nas linhas sempre autorreferencializadas de um poema à mercê do seu fazer/ser-de-linguagem).

Intrigante se torna, então, ver a literatura como ato, cena e proposição magnetizantes quando veiculada em formato áudio-visual. Todo um dimensionamento hoje prospectado por canais, streamings, vias várias de apresentação, sejam de textos, sejam de leitores e encenadores, acaba por ter potencializados tais suportes, interferindo em concepções de linguagem e forma, no mesmo instante em que se torna outra, aquela compreendida como arte por escrito.

Como disse antes neste artigo, a literatura não deixa de gravitar em torno de um plano mais recôndito de leitura.

Paradoxalmente, aí, é que a inovação do que se traduz de modo cênico, performático, audiovisual, imediatamente pregnante em termos de imagem e veiculação pluritextual, passa a ganhar um desenho de maior impacto, tendo a arte da escrita como recorrência cada vez mais presente no âmbito multimidiático. Uma dimensão a contar não de agora, mas de toda uma história semiotécnica, instaurada gradativamente desde os primeiros sinais de modernidade do século XIX –, enfim erguida como horizonte do fazer, do saber e do recepcionar criações as mais diversas, para as mais impensáveis finalidades de conhecimento e difusão.


LITERATURA, HISTÓRIA – DEPOIS

O projeto de um 1º Encontro de Produção Literária em Oficinas – com o subtítulo Depois do Normal/Reiventar o Real –, realizado de 23 a 26/8/2021 pela plataforma StreamYard –, deu forma ao debate aqui pontuado. Trazendo 11 participantes dos Laboratórios de Criação – Escrita de Literatura e Teoria, nome da linha de pesquisa da Pós-Graduação em Estudos Comparados (FFLCH/USP) que define as atividades de diferentes núcleos de escrita coordenados por mim, o evento tornou bem agudas as travessias e as remissões inevitavelmente interligadas em diferentes épocas e artes/áreas do saber. Revelou, também, como producentes de enfrentamentos, de proposições surgidas com o sabor único dessa hora, desse agora, quando se formula a contemporaneidade da literatura por meio de processos desenvolvidos em workshops. Especialmente, ao se frisar a emergência Depois do Normal/Reinventar o Real.

Um jogo paradoxal com a suspensão do tempo se propõe, então. Um antes, um depois e um durante incontornáveis quando se tem em pauta a produção de arte em época não apenas assinalada por confinamento sanitário, mas também de ordem política. Ordem cerceadora, já em 2019 (quando do inicio da atual governança de nosso País), de todas as formas de conhecimento, ciência e cultura como sistemático programa de invalidação da inteligência, da ativação da vida social em sua concretude, da produtividade, enfim, em qualquer campo (do imediatamente econômico ao pressupostamente abstrato, envolvendo a esfera “intelectual”, essa aliás integrante de todo humano em qualquer posição funcional ou status)

De tal compreensão aporética, desconcertante, relativa ao tempo, à história, à criação de coletivos em todos os setores da existência em confinamento, partiram as performances integrantes de nosso Encontro. Havia, portanto, contexto e também conceito norteadores de uma outra compreensão da atualidade. Num só instante, agosto de 2021 é marcado por conexões intelectivo-cognitivas dimensionadas por diferentes tecnologias, a contar de um trabalho conjunto em Laboratórios de Escrita, e também pelo toque regressivo, persecutório, de uma política adversa ao pacto multiplicador de realidades e formas de vida. Tal confrontação gera combustão. Induz escritores/atuantes a

INSTANTE PERFORMANCE

Não queremos, certamente, o durante, nem mesmo um antes, muito menos um depois (“de volta ao normal” tal qual um “novo normal”) pendente de tal organização temporal, irrompida com o lockdown, sob a baliza dos agentes representados pela política brasileira em vigência.

Instante Performance – Não ao durante, antes, depois, enquanto encadeamento-presa de uma ordenação de forças delimitadoras, regressivas/repressivas. Parece ser o mote de tanta gente jovem reunida, (tendo eu, sexagenário, como mediador), sob um desígnio de conhecimento e criação na Universidade Agora.

Foi motor dos 4 dias dos Laboratórios de Criação, modulados sob a forma de Atos de Teoria/Cenas de Literatura, o interesse pela não continuidade da visão – vislumbre de uma pauta já alinhada – sobre o presente. O que também se estende em relação ao que hoje se escreve (como legitimável, legível, subsumível a uma ordem reinante de valor e empoderamento por meio da escrita).

O atual momento do Brasil, abrandado pela diminuição de vítimas da Covid 19, dá sequência ao que era dominante nas artes, na produção intelectual, na ação político-social-cultural. Como se não tivesse havido um antes, culminado na cena confinadora ante o alastramento da pandemia (tendo o Brasil como epicentro, frise-se).

A compreensão da performatividade como noção propulsora de uma ética, de uma redefinição do tempo e da história, sob o influxo de uma contralógica embasada na corporalidade, conjunta ao mapeamento de um senso de fisicidade e intervenção, possibilita a desfeitura do continuum de coordenadas inoperantes. Essas ainda desenroladas após o horror vivenciado em tempo real, com a manutenção de discursos, ideologemas, ditames enunciativos tornados palavras-de-ordem inviáveis para uma ação direta depois da pandemia e do horror instalado pelo atual governo do País, numa combinatória nefasta, paroxística.

Bem assinala Franck Leibovici, em suas construções performativas de livro e exposição, o senso interventivo que o norteia através de uma decupagem/dissecação do que foi estabelecido como documento e monumento. Tudo o que contraria, no próprio domínio da arte, uma estética da administração, uma valoração discursiva de posicionamentos testados, pretensamente garantidos, sob a égide da coesão, com foco no que é culturalizado e reconhecível como “visão de mundo”.

Patente se revela por vetores performáticos, embasados em repertórios nada adstritos a um regime/regulamento disciplinar, o intuito de intensificar o contrafluxo da lógica do agendamento autoral/empresarial (mesmo quando há apenas um artista a se produzir), típico das realizações “bem sucedidas”, das linhas-mestras seguidas no Brasil como única forma de potenciar ações/atitudes em uma área que deveria ter como princípio inventividade e radicação no agora (no que é apenas de agora/base do movimento sempre atualizador, desde Baudelaire, da criação em tempo e corpo presentes). Algo, aliás, básico de qualquer noção que não se queira modelar pelo andamento burôadministrativo dos corporativos nichos da Performance, a impulsionar-se, então, pelas trilhas de fisicidade e historicidade.

Ou seja, em análise do universo criador de Leibovici, desenrolam-se posturas timbradas por um ativado sentido integral (somático, enfim, congregador de corpos e mentes), em que artista e arte se lançam a um gesto próximo do caminhar, contraposto “ao que não pensa sobre, mas percorre” (Khazam, 2018: 32). Mapear, desconfigurar, retranscrever, numa atuação conjunta daquele em ato não-programático (embora constante de uma certa preparação, de um programa compactuado com o fazer em dado instante, nunca antes surgido).

Desponta, então, um autor em prova. A cada desafio criador se engendra bem mais do que um emissor discursivo, um agendador/empresário de uma carreira e de um repertório-referendum. Frisa-se o risco de se jogar no instante de uma caminhada, das linguagens não fixadas num só/mesmo lugar, numa reincidida temporalidade fundada em remissiva origem.

Tal via presentificadora faz eletrizar o que se considera inerte, inviabilizado por obra virótica conjugada à manipulação política dos “escritórios do crime” e do império Fake News and Views of Acting. Aponta para novas formas de existência – com interesse em não repetir o que está aí desde muito tempo, ao ponto da culminação mortífera das populações como projeto de governança num revestimento neonecroliberal, em consenso com certa Ordem do Mundo.

Através de arte e teoria, entendidas como esferas basilares, inter-relacionadas, para políticas que se proliferam à altura da experiência de cada um indissociável de seus múltiplos elos comunitários, o que se entende como real ou normal se aguça e faz agir numa época moldada por orientações já confinadoras bem antes do retiro forçado (por sinal, em continuidade nada problematizadora após uma relativa trégua de Corona/Covid). Justo quando se nota a “data vencida” das estratégias carregadas de fragilidade tática bem antes da pandemia, ainda mais depois (com a reiteração de valores pretensamente autoimunes depois do horror do horror do horror). Tudo (no interior de nossas casas/cápsulas e nessa hora convidativa ao ar livre) parece ter se enferrujado, ganhando um tag de datação, desprovido da potência da reinvenção dos corpos e dos bens após o terrorífico jogo político com a saúde, o ambiente, a educação, a cultura, o direito de habitar/sobreviver e o devir dos coletivos em emergência.


CADERNOS/MORADAS

De modo intrigante, Juliana Ángel-Osorno, no ato apresentado em Depois do Normal/Reinventar o Real, abre o caderno em que escreve seu romance Versão Bilingue, composto de notas sobre sequências fabuladas acrescidas de linhas teóricas colhidas em campos os mais variados (semiótica, filosofia, tecnologia, política, antropologia, história cultural, televisão), contendo também mapas nos quais se traçam os elos entre Colômbia e Brasil. A jovem escritora tem como via construtiva de sua narrativa um momento histórico em Bogotá, no ano de 1999, em decorrência da guerra de guerrilha. Seu foco recai no comediante de tv e também político Jaime Garzón, morto por paramilitares em função de seu ativismo como mediador entre guerrilheiros e parentes de reféns retidos pela guerrilha. Daí parte Ángel-Osorno para estreitar irrefutáveis vínculos com o assassinato de Marielle Franco, uma intelectual “orgânica” (como formulava Gramsci) das comunidades faveladas do Rio, interventiva presença da politização cotidiana do contingente massivo em desvantagem e desvalor crescentes na antes conhecida como Cidade Maravilhosa.

Digno de destaque é o tratamento nada óbvio impresso pelo romance em preparação ao descartar pontuações factuais de cunho historicista, vivenciando de modo internalizado, bifurcado numa matizada dinâmica de testemunho e trauma, favorecendo a via de uma contrarreportagem. De um modo próximo de Ricardo Piglia, em 347 Cuadernos, filme de Andrés di Tella, um inventário de minudências, pontos cruzados e formas inopinadas de flagrar o terror de nossa latinidade americana, acaba por se impor nos processos da memória e de uma posterioridade vivenciada em novos contextos. Através de sequências cada vez mais graves de implicações, irrompidas em dimensões impensadas, imperceptíveis.

Ressalta-se na arquitetura gradativamente erguida pelo livro a lida com um conjunto de eixos/elos problemáticos. O que se mostra irredutível a um simples panorama sociológico ou à defesa de algum princípio de pertencimento, identitário que seja, já avalizado pelas políticas mantenedoras de um mesmo estado corporativo de coisas, seja nas vias acomodatícias da “situação”, seja nas contrafacções permeadas por um imobilizante capital reservado (de modo ainda salvaguardado e discursivizado) “à esquerda” (como se tal posição garantisse uma real transformação, uma consistente significação).

Motricidade na convivência de teoria e escrita se alastra, também, em Corpus do trabalho, ato concebido por Felipe Souza. Assim como Juliana A-O põe na mira a televisão – observando-se que o artista e militante assassinado em Bogotá atuava nessa mídia –, ele realiza uma conversão desse dispositivo-sistema de informação a uma espécie de plano expandido das radiações político-sociais da realidade latino-americana. Mil vidas te daria (romance de FS, em construção, matéria de sua tese de doutorado) se nutre de um repertório variado de referências. É o que se processa nesse projeto narrativo, elevado no campo da teoria a um grau de desdobramentos tão atualizadores quanto ampliadores em torno do híbrido de domesticidade (um móvel do mobiliário domiciliar, como bem pontua Avital Ronell, em seu essencial “Trauma TV”) e aparato/aparelho emissor de diferentes formas de poder, que é a TV.

No compasso dos intrincamentos nada facilitadores cruzados pela televisão, numa era marcadamente informacional, plugada em vasta rede de recursos e recorrências interpelativas/interativas, Felipe Souza insere no romance a caminho um veio de reconfigurações da parte daqueles que assistem a imagens e também fazem reproduzir um compósito de publicidade, ficções em várias durações (das antigas telenovelas às streamingseries), gincanas com altas premiações, variedades/entrevistas e noticiários/documentários concebidos em função de diferentes formas de audiência. Nodal, no livro em preparo, é o lugar reservado às mutações da família, da sexualidade e dos perfis da coletividade anônima tantas vezes planificada por estatísticas conformações societais à volta do aparelhamento do grid televisivo.

Impulsionado pelo estudo do universo masculino, sob o influxo das atuais ondas do feminismo e dos cross-genders atravessados pelas subjetividades contemporâneas, Souza centraliza Mil vidas te daria num protagonista recém-divorciado. À volta de uma figura de homem decorrem os fluxos telenovelescos (antes, na sua longa história de dramaturgia e produção industrial, dirigidos a um público notadamente feminino). Simultaneamente, escoam os embates seminais da projeção de imagens de mundo no contexto mundializado, como dado inseparável da serialização nos modos de ver, recepcionar e transmitir valores e atitudes.

Não à toa, no ato Corpus do trabalho – criado a partir de uma pesquisa de doutorado –, Felipe Souza aparece em seu dia-a-dia como um “dono-de-casa”. Lava pia, guarda utensílios, carrega o lixo até a área de serviço. Toda uma dimensão aflorada, revelando-o não só dedicado ao trabalho intelectual e criador de literatura, ao ponto de modular no andamento das tarefas domésticas uma reflexão, verbalizada em off, acerca das linhas seminais de sua tese (composta por um ensaio produzido à medida investigativa de seu romance, indissociável de um corpus teórico multifacetado, um verdadeiro corpus de trabalho).

Inevitável, o paralelo que aí se cria com Godard, em Numéro Deux (1975), um filme sobre familiaridade/convivialidade, recortado por inserts verbalizados e legendados sobre as coordenadas de pensamento e politização emergidas numa radiografia das transformações de existência/convivência na planta-base do cotidiano.

Traduzida no streaming Yard de um Encontro transmitido como live, a apresentação de F Souza torna ainda mais aguda a relação entre domesticidade e vida pública das imagens. Tornando acirrado o contexto da pandemia causada pelo vírus da Covid 19, o áudio-visual que registrou nosso evento trouxe à tona os vínculos formados entre virtualidade e confinamento, o espaço das moradias e a quadratura cênico-cinemática aí disposta (a contar dos lugares habitados, confinados).

Interessante é ver como se desenrolam na proposição performática de Michel MIngote, Curral dos porcos de Vênus ou O livro dos equívocos, as ligações entre virtualidade e confinamento. O espaço da interioridade toma proporções terroríficas, sinalizando a inexistência de distância do cerco político-sanitário formado no Brasil pela máquina de manipulações econômicas ante o alastramento da pandemia. Uma condição de acosso invade as residências, numa revisita cenoplástica a certos experimentos de David Lynch com a mascarada do americano-médio, do americano-media. Tudo se baralha de infantilidade (máscara de papelão usada por Mingote) e ao mesmo tempo da face patética de uma patologia em vários graus, perceptível na animalidade perversa dos “Porcos de Vênus”.

O que é habitar? Parece perguntar o “apronto” performativo. O que é habitat?

Um domus tomado pelo horror ambiental (que interfere não apenas na natureza, mas nas dimensões ecosóficas estudadas por Guattari, em vetores mentais, culturais, sociais). Tudo, então, se encontra na performance, a indicar o vínculo que se cria, no interior da escrita, entre cena e literatura. Pois o performer extrai de um romance em preparação, sinalizado por um princípio polifônico, ao mesmo tempo em que investiga a dimensão rizomática da narratividade hoje (advinda do clássico da contemporaneidade, Mille Plateaux e também das teses sobre arte no presente milênio lançadas pelo admirável espanhol Agustín Fernández Mallo, autor da Trilogia Nocilla e de Post Poesia).

Um intercâmbio inevitável, então, se deflagra, capaz de dissolver os significados estanques de artes sedimentadas em especificidades limitadoras. Muito importante se torna ver, no desenvolvimento das Cenas de Literatura/Atos de Teoria ocorridas no nosso Encontro, uma engrenagem de relações teóricas com os campos da escrita e do performativo. Algo dotado de força para estreitar, em vias cruzadas, os modos de produzir textos, inseparáveis de uma conceitualidade heterodoxa, extraída de diversificadas esferas epistemológicas.

Sob o signo de uma atuação no presente. Assim se realizaram os atos. Patente se revelou a indissociada manifestação integral das linguagens potenciadoras de uma escrita à altura da onda do tempo/da ambiência-terra planetariamente ramificada, indisposta com os englobantes da globalização econômica e seus usos políticos, inclusive aqueles das “politicas literárias” em vigor, mesmo com o abalo de longo alcance trazido com o vírus/variante de diferentes signos em corrosão – o que é bem diferente da política da escrita, pensada por Rancière, Silvina Rodrigues Lopes, Flora Sussekind, entre muitos outros teóricos decisivos para uma nova postura de pesquisa e criação em Laboratórios de Literatura.


(Na próxima edição de LÁPIS, janeiro de 2022, continuaremos a apresentar algumas linhas sobre Performance, Contexto e Conceito, tendo como eixo DEPOIS DO NORMAL/REINVENTAR O REAL Primeiro Encontro de Produção Literária em Oficinas)


Referência Bibliográfica:

KHAZAM, Rahma (Org. e Introdução). Une poétique pragmatiste. Considérations sur l’oeuvre de Franck Leibovici. Dijon: Les presses du réel, AICA France, 2018.


Os 4 dias do Encontro estão disponíveis através dos links:

https://www.youtube.com/watch?v=hVJJK4PPOOs&t=1208s

https://www.youtube.com/watch?v=VkjxtzZkpO4

https://www.youtube.com/watch?v=3kdrvb0BFWc

https://www.youtube.com/watch?v=DPYjA8jKNzY