GRAVITAÇÃO GODARD 24 H POR SEGUNDO

Performance Cênico-Musical


Em homenagem a Jean-Luc Godard, falecido em setembro de 2022, LÁPIS publica Ato 1 da peça-performance escrita e realizada por Mauricio Salles Vasconcelos a partir de seu livro HISTÓRIA(S) DA LITERATURA - Jean Luc Godard.



ATO 1

CINÉFILO –

(Deixa o livro por trás do qual esconde seu rosto e aponta para si num autocomentário crítico e cênico)

Este é um cinéfilo. Não passa disso. Ele: isto é, mora dentro de filmes. Sai de uma sessão a correr para outra. Habita filmes-livros para melhor dali escapar e situar outra morada. Só fica passando por isso. Outra moral? O quê? Cinema e Autobiografia. História (s) da Literatura.

Passa a a vender filmes/livros. Atravessa a cena a expor seus volumes diversos. Alguns roubados. Publicações independentes despontam em meio ao material comercializado (à noite) – Ambulante, ladrão e comentador dos DVDS piratas à venda.

ERA UMA VEZ UM CINÉFILO. Por que não se veem apenas os filmes. É preciso ler juntamente o que se passa. Enquanto se mira um DVD, doméstico campo de imagens. Há todo um romance a ser escrito e por isso caminho. É todo um romance que caminha. E eu apenas sigo o que se vê.

Expõe seus materiais de roubo/venda. A um só tempo, se mostra como jornaleiro/vendedor de Sebo a céu aberto e jornalista. Vende e anota notícias em sua caderneta.

Informação na Hora. Só se for agora.

Sou jornalista e jornaleiro.

Jornais querem dizer Atualidades em Movimento. No corpo de alguém. Livros mal saídos das editoras atravessados aqui onde estou. SEBO AR LIVRE MADRUGADA.

Bem Aqui: todo Godard na minha mão

(Montagem de Boxes/Obras de JLG no Palco)

Nova Cidade Erários da Tribuna.

Os euroturistas no Quadrilátero Luso Africano Brasiliense

A barragem não Pacífica do Interior Nacional Invisível

O SEGREDO DOS PETRO CAPITAIS DE KANT

Até escancarar e esgotar os Universais da Filosofia Universitária.

SEXO EM ESTADO DE SÍTIO NEW YORK CITY

HERALD ERÁRIOS TRIBUNA

NOVO ESTADO DE SÍTIO-CITY

ERA DOS ERÁRIOS TRIBUNA



Era uma vez um cinéfilo – Tornei-me colecionador, logo ladrão de livros/filmes

ACOSSADO NA CIDADE DOS AUTOMÓBILES PEDESTRES

Ladrões de Ciclovias

Ei! Que música você está ouvindo na Autopista dos Autistas (iPod sounds)

Música Exclusivamente Música? TecnoPortabilidade? Ninguém escuta a música que está tocando de aparelho a aparelho – aparato dos corpos cada vez mais despidos. Nenhum erotismo de um até um apenas. Me conta: que música você escuta? Música? Para quê? Para embalar a vidinha? Em nome de saúde sarada ideologia. Me conta. Só agora. A MÚSICA ESTÁ TOCANDO SÓ PRA VOCÊ.

(JOGO-CLAQUETE NA PLATEIA até mostrar um exemplar de JLG HISTÓRIA(S) DA LITERATURA )

Tudo vem e volta aqui na minha mão. Os filmes acabam aqui. Invente já um romance de vida em imagens. Giro 24 horas por segundo.

(RETORNA ao palco. Faz jogo-claquete com um dos músicos)

Desde o tempo em que acabaram os Cineclubes depois se findaram os cinemas-de-rua. Agora só há cine-mundo dentro de apartamentos solitários. Mas a informação vem da rua.

A poesia está nas ruas. E estou dentro de um Musical. Canto, logo danço e disparo num só momento, movimento-imagem e tempo acelerado. Sim, aprendi a carregar uma arma de bolso. A PASSAGEM DE COLECIONADOR A LADRÃO DE LIVROS PARA ATIVISTA DAS RUAS É SÚBITA

Onde você estava em 2016, Brasil? SINTO QUE O MÊS PRESENTE ME ASSASSINA.

Sinto que o mês me pressente e eu assassino o já passado 2016.

NOVA PAULISTA ERÁRIOS DA TRIBUNA – New Yorkshire Cão de Guarda Vai Ter Pista Exclusiva e os Ambulantes poderão circular apenas de Madrugada

(Toma posse de uma faca)

– Vá e mate – atravesse a Ciclovia – Há um nefasto pensador que atrasa a revolução – por mais que não pare de falar de revolução. Empata a foda a forra da Terra. Não transforma a universidade, nem a política. Emperra tudo o mais com teses terroristas e quer colocar um sinal de menos ao Ponto Zero do Universo. O negativo sobre o negativo: a lógica do pior enquanto houver Capitalismo. Ele é o Fantasma Onipresente dos dias que correm. Mas ocupa um lugar privilegiado no Capital da Esquerda.

(FAZ GESTO de quem delineia fantasma ao lado)

Sempre ocupa um lugar ao lado, reservado, acoplado ao Estado de Coisas. Como se movesse a um só tempo a regressão e a progressão linear da História (dentro de um guichê de Filosofia do Estado). Um fantasma é o que há de mais duro de se dissolver. VÁ E MATE – É ESTE HOMEM MESMO. UM SÓ DADO COMO ÚNICO.

Dança de um lado do outro do cerco dialético blindado com razão cínica. Mas a forma que toma o fantasma é bem visível. Suga nossas energias e da natureza da História por meio da Crônica Política. Não sai das primeiras páginas dos Cadernos CulTurais. Mate isso tudo agora. Logo mais, bem de noite. Assassine até o fim. Uma forma-fantasma se implanta quando tudo está adormecido: tarde demais da Noite. ME ENGANA QUE EU GOSTO. ME ENGAJA QUE EU POSTO.

O cinéfilo se torna PEQUENO SOLDADO –

FACA NA MÃO – (Bate no peito e empunha a faca a fazer um credo/dogma)

Só gozarei – quer dizer, estarei de fato com alguém, qualquer outro – quando tiver fim a MacroPolítica.

(Passa faca pelo corpo; vai até os pés, passa pelo sexo e vira Corisco/3º Olho)

(Aponta a faca para a plateia)

Só terei fim quando me findar junto com o Macro Cosmos do Real Moeda Corrente, no mesmo pacote-padrão das matérias terroristas nos jornais de Lazer e Hegel Hegemonia.

- Ativismo Ao Ar Livre? BlogMilitância? Cinema de bolso minimanifesto em circuito privê?

(FACA APONTADA PARA A PLATEIA é direcionada para si)


É tão fácil se alinhar a um álbum familiar entre os retratos rostos os mais distantes em Rede Social. Preciso sair do jogo reverso de câmaras – facção a ser potencializada pelo crime anônimo, passando-lhe a autoria para o bando de encapuzados. Mais vale pensar por fora.

(FACA APONTADA PARA SI é direcionada DE NOVO para A PLATEIA, NUM VAIVEM ELÉTRICO, NERVOSO

Até que recaia contra sua cabeça)

LEVE SEU FILME-BOMBA PARA UM FESTIVAL EM BRASILIA. FAÇA UM FORUM EURASIA EM HEIKJAVIK indo na volta ao Capital da Cidade do Cabo Verde. Carregue esta faca na bagagem junto com as Edições Boitempo. E seja feliz no Grand Mondo dos Rostos Reincidentes POR MAIS DIFERENTES QUE VENHAM DOS MAIS LONGÍNQUOS LOCAIS. ESTEJA EM TODOS OS LUGARES, MEU FILHO. Contrate um webarquiteto e um afiador de lâminas no backstage.

(Faca apontada para si, EIXO-CORAÇÃO)

Chegou a hora – UM HOMEM E SUA HORA (Mário Faustino, 1966). 2016, 18 horas da noite/tarde, chegou cedo demais o futuro. Chegou a sua hora: NÃO DE MORRER. AGORA é hora de matar.

Morrer na História passou a ser a simples menção a DATA-BASE. Como se o não-natural fosse a força corrente, original.

Sim, sei. Encontrarei um caminho-de-rato.

ASSASSINATO do filósofo-ativista contra um muro riscado com cacos-de-vidro, onde vinga um grafite contra ESTUPRO AINDA ESCORRE ONDE NÃO MAIS ESTOU A SANGRAR e anúncio CICLO FILOSOFIA MUNDIAL DE A ARISTÓTELES AO ZORRO ZIZEK.

Me engana que eu gosto – Me engaja que eu posto, hein?

EU, ENTÃO, ME ESCONDERIA ENTRE OS MANIFESTANTES depois da morte do aspirante filosófo-cientista macropolítico partidário.

Foi feita a Encomenda de Terror ao Terror. Ponto Zero ou Zero a Zero. Sem nenhum ponto neutro: nó cego presente vence nosso descaso universal. Do Terror ao Terror. Assim estaria encaminhada a morte do secreto crava-coração, empata-foda quanto o filósofo de Departamento mais fala de Revolução Agora Contra o Golpe Consentido, Entronado. A culpa seria da facção contrária e ganharíamos pontos a custo de outros, ocultos (o anônimo bloco do ERRANTE BLOG IMPÉRIO DA MULTIDÃO)

A SUA FACÇÃO: a minha, pois. Crime atribuído – tornando assim mais eficaz e também oculto o nosso ativismo. Se eu preciso matar, logo não desejo me esconder com a morte em minha mão.

(ELE JOGA FORA A FACA)

(GIRA AO REDOR DO MICROFONE)

E agora desapareço, volto à teoria, ao cinema clássico de Glauber Carmelo Bene Ousmane Sembene e Jean-Luc Godard. Tudo vai bem, o mês assassino me presenteia com a Grande Morte na Alma da Vida Material.

(FAZ GESTO VAZIO SEM A FACA, COMO SE A USASSE)

Fiquei acuado a partir dessa data de contraestratégias crimes interrompidos diante de um poder cada vez mais central – o Presidente do Golpe representa a imagem de uma Fístula/Fissura Cancerígena Anal a demonstrar o estado regressivo, sem pesquisa, nada de ciência e política nas primeiras páginas dos jornais natimortos locais –

Fiquei recuado em casa – sem querer sair do círculo de giz informático cravado na tela/lâmina líquida perfurante contra mim mesmo em meio ao efeito multidão dos mundos em plugagem direta –

Recuado, entretido a escrever

(Senta-se no chão e escreve)

Busco fotos rastros no download do dia de pessoas imagens por segundo – Perco meu tempo dentro da Era dos Anos Perdidos sem Corte Cronológico – História ou Genealogia entre máquinas centralizadoras e manifestos imediatos involuntários lançados ao ar da Memória enquanto Postagem Pública para efeitos privês

De repente, tenho um diário formado, um domínio – Um documento-blog dedicado a CINEMA-MUNDO (sou um crítico novamente, um curador a organizar festivais, fóruns de vozes políticas nunca vistas antes de uma tela a outra,

ALTA DEFINIÇÃO DA POLÍTICA DO ARQUIVO –

Depois dos livros e filmes capturados na rua –

MAURO GODARD ATENDE O CELULAR

Sim, aqui é Mauro Godard? Ah, sei, sim, sim, codinome de Mauro Vasco, o escritor e pesquisador de Literatura Comparada?

Sim, eu posso falar. Minha experiência desde 1985 – O fim da Ditadura e da Democracia por Via Indireta. O início do Brasil ou o rompante do Pós-Moderno. Pós-Cinema? Via aberta para o Novo Golpe Brasil em Risco.

Vida em Tempo Integral? Renascer depois do Fim da Revolução – Encontrar um trabalho – Testemunhar sobre a história que passa com cada um do múltiplo nenhum lá dentro – A revolta retorna sem nome, nem um único endereço. Salve-se quem Puder da Própria Vida (um Vetor Indireto, Intransitivo).

Morte não-Natural?

(Desliga o celular)

Onde a música conjunta, celebratória? Um coletivo dançarino ao fundo?

O fio do tempo se desenrola independentemente?

Hiperfiação TecnoGlobo Media Capital?

(Não se escutam sons, mas apenas a plugagem da sintonia tecnotrônica tom a tom de voz em teste? Repita? Planeta simultâneo em uníssono/consenso. Repita)

Onde está a música?

Para onde vai a música quando começo a falar? Parece música de filme. Mas não é. Trata-se da sua própria trilha de vida e vazio. Vazio ao fundo, preenchido por uma espécie de música.

E depois: me silencio? Não: a música pergunta. Ou melhor: a pergunta é: Para onde vai a música quando eu me silencio 24 horas por segundo? Silêncio?

(Mauro Godard é fuzilado, sem que ninguém saiba de onde vem a morte)

Os inimigos são bem fatais, reais, quanto mais leem minhas postagens polêmicas mesmo quando falo de cinema no mundo, na vida a salvo de repetição, repetição das imagens-de-mundo.

Mesmo quando saí das ruas e apenas posto texto/imagem/som de dentro de minha casa (caixa).

Silêncio.

Torrente eletrônica de música sobre seu corpo, em espasmos, a morrer)

Por quê? Morrer? PORQUE quer dizer morrer?




Por que: morrer?