BEBETE BEZOS

(Mauricio Salles Vasconcelos)

Episódio 6

Em andamento de folhetim, segue no LÁPIS o Post Tela-Romance Bebete Bezos (Episódio 6).

O projeto se centra numa recriação, no feminino, de Beto Rockfeller (telenovela emblemática de Bráulio Pedroso), acrescida de motivos romanescos extraídos de autores como José Agrippino de Paula, Alfred Döblin, Robert Musil e Witold Gombrowicz. Em pauta, se encontra uma atualização de personagens do século XX instalados na época multimidiática gravitada em torno dos domínios de imagem/influência tal como configura Jeff Bezos (em correspondência neomilenar com o que Nelson Rockefeller exercia sobre o protagonista de Bráulio Pedroso, nos anos 1960, por força do poder econômico).


Mauricio Salles Vasconcelos

Bebete Bartolomeu está sendo posta à prova

         Acaba, então, por refigurar em outra cena, aquela decisiva para uma mudança de vida, ocorrências retiradas de sua própria história. Só em extração (tantas vezes bruta, abrupta) de si, nos momentos menos refletidos, tem chance de prosseguir.

                          Assim, assinalada numa acepção repleta de matizes (não, melhor dizer matrizes, aferrados marcos, tilintantes timbres), de soluções/saídas. Especialmente, quando o confronto a respeito do que é, de onde veio, não deixa de se pautar enquanto exame/exercício. Acerca do desempenho de um alguém praticamente desconhecido –


Posto e Prova –

Todo lugar (o menor, o nunca mentado para ser um lugar) se torna posto. Dá começo à prova –

A próxima, sempre é assim: já transcorre, prometendo a meta de um novo outro desempenho enredado no acontecido


Odila não interrompe o exame. Nada se encerra numa primeira amostra. Principalmente, a contar da indicação da garota por parte de marido-e-filho para o cargo de Propositora de Eventos.

Agora a jovem – depois da Noite no Salão Pan SP – terá compromisso firmado com a Editora e Empresária. Cabe-lhe – enquanto integrante do Setor de Eventos – a ativação dos elos cada vez mais visíveis entre Atos Ao Vivo e o Material Iconográfico produzido, mantido em posse pela Revista –


        Enclave de Entretenimentos e Fóruns de Conhecimento.

Prova Ao Vivo em Relação a Imaterial World, Omnipresent at an Ideal Distance (assim reza o legado Bezos de escrita e dígito)


Lá vai ela em seu caderno (todo pauta, capa dura preta tal qual Livro-de-Ata) grafar a primeira etapa de seu round entre os Karams.


BEBETE NA BARRA


Conduzida ao Rio de Janeiro (lançamento carioca do Número-Documentário de Maga Mega), à guisa de uma primeira experiência como Event Designer, Bebete Bartolomeu põe tudo o que viveu à mostra. Através da atuação de outros, inclui e dissolve dados sobre a própria fábula


Por trás da cortina de Senhora Lora e dos apelos na placa – vê-se uma realidade enredada, com trama visível vazada para muitos lados. Entre previsão e flagrante (Será um marco reviver o encontro com a guia-espírita na criação do Ato Os Catadores de Espinhos)


Desse sinal fundador da vivência atravessada na companhia de Cid, a nova funcionária do Conglomerado Karam pode se lembrar do que foi dito pela Vidente de Crucilândia –

Lá, numa espécie de início borrado (em retorno implacável, jamais exaurido, a exigir a todo momento versão urgente de um Início, de uma proveniência)

Foi necessário fazer muitas visitas a Sra Lora na tenda aberta dentro de seu barracão blindado com cacos de vidro.

O primeiro gozo sentido do corpo de Cid não perdurou, guiando-a para os descaminhos das vielas que vão dar na Placa Sra Médium – quebrada/ quebrângulo do bairro barrento.

Até que um dia, foi decidida a entrada no âmbito da Sra magra, parda, pequetita, dotada de um olhar atrativo capaz de desvendar itinerários a uma simples mirada. Nunca antes, a adolescente Bebete pareceu estar sendo desmembrada de tudo já compreendido e armado como trilha a ser seguida. Desde que provou do corpo de um outro.

Porque tanto na água purificada à minha frente quanto aquilo exposto nas curvas do café aqui na borra sua história vai se passar entre muitas pessoas ao ponto de você não saber ao certo seu nome um começo que for     Assim como o fim –

Avisto um centro à sua volta (isso é o mais certo, há um desenho da sua cara multiplicada agora, bem na minha frente)


Do mesmo modo que faz um círculo muito claro a água na tigela com as pedras magnetizadas e essa espiral do café que sobe à superfície

Nada vai deter o movimento, um desfile por muitos lugares, você adiante, sem pensar nem querer nada mais que não pensar, no meio de uma sequência sem nenhum freio

Claro feito água (aura redobrada, vinda do magnetismo das pedras) – Bem traçadas fontes velozes, tal como as figuras estão se agitando nesse copo de café forte, queimado –

Cruzamento de muitas linhas, locais nem imaginados. Difícil eu dizer donde que é, quem é quem


Da mesma forma que seu rosto nesse momento está choroso pela perda do primeiro homem: muitos não faltarão, sem fazer o menor gesto seu rosto já se preenche de um outro choro, gozo, gosto inteiro por viver (água, aura, figura forte, linha traçada se queima, escorre

O rosto permanece, mas não vejo mais você, a criatura dessa hora em minha tenda

Nem mesmo saberia quem, apenas o comando desse seu mesmo corpo sempre mais adiante um só rosto a tomar a compreensão de tempo e localidade.

Tudo está como você, aí, não fica sem surgir (quando seu rosto se tornar fixo, reconhecido)). Como se fosse apenas por força de um rosto juntamente com um modo de falar. Rezam assim sua cabeça, cabaça de búzios, pedras, água natural e retinto café

De novo, sua voz, um rosto

Nada mais que isso. No entanto, faça nota do mais valioso: não para de surgir para além do que você mesma chama de “você”


Desde que tudo seja silenciado sobre sua proveniência mais próxima, ou seja, a condição de demonstradora/vendedora de modelitos na Grife Sancho Hoisel).

Não à toa, Mazé e Kuki Karam se silenciaram quando a introduziram no Círculo MagaMega. “Esta é uma criadora de eventos” –

Até mesmo porque a força impressa por Bebete quando da prova de roupas na Rua Alemanha/Residência Karam teve como adereço sugestões estonteantes para aqueles dois homens envaidecidos pelos próprios corpos, num suceder de vestimentas. Além de um vivo conhecimento sobre o que faz festa precisamente para o dia de hoje –

Voz quase infantil da garota ágil em tudo comentar sobre o que tinha em mãos (roupas, silhuetas) e se desdobra mais adiante (endereça o imediato a relações vultosas, referências/rodapés distantes de uma simples amostra de moda).

Até porque tão logo as fotos do lançamento do Número-Doc da Revista foram disseminadas por formatos vários, Bebete ficou exposta aos olhos dos muitos fregueses Sancho Hoisel, principalmente para o gosto exclusivista do fashion designer. Não durou uma semana para que fosse demitida da Grife. “Não apresenta mais nosso perfil, ficou pública, indeterminada, a imagem de uma integrante exclusiva do Projeto Moda e Modos de Vida”.

Quem gosta de celebração admirou a proliferação icônica dos registros em cima da hora de criaturas hiperconhecidas e uma reincidente convidada: Bebete (?).

Logo ali se encontra numa conversa cerrada com os homens Karam. Num flash grupal, tem seu busto tábua-de-passar formado num ângulo com os seios proeminentes de Odila, a Empresária-Propositora de Estilo. Especialmente, na selfie extraída de um abraço em Mamãe Brigite/Brites o detalhe das idades aproximadas ficou mais acentuado. Em grande parte, o relevo fotográfico de mulheres irmanadas por suas gritantes discrepâncias, tornadas intercambiantes flashes em geminação, se deve ao do modelo criado pela velha, indômita senhora: chicote ostensivo, boá de plumas sobre os cabelos longos louros grisalhos produzindo contracontorno para um olhar verde demais, protuberante, pontuado por couro cor-de-musgo laminado.

Sem querer, estava a propor um nunca imaginado reverso de modelação da imagem (da atualidade para além da moda sobre corpos jovens)”. É uma pergunta e também uma constatação. Sem querer (moda, modelação pelo reverso)?

(A garota não sabe bem, em seus quase 30 anos, imperceptíveis pelo fator chiclete de suas falas mascadas sobre uma goma até poucas décadas antes significativa apenas para a meninada de um certo tempo). Ping-pong por trás dos lábios carnudos prontos para emitir o sentido do agora (goma velha remascada).


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Não há dúvida, contudo, de que a foto-bomba na noite de magas e mega produções tenha sido aquela Bebete com Brigite/Brites. Um cotejo, então, se desenhou entre faces vindas de divergentes épocas.

Uma aproximação risonha nascida de um afeto raro de espontaneidade entre aquelas mulheres se firmou para os olhos vidrados nas muitas fotografias dos rostos simbióticos, mais do que relacionados – A emergência de uma daquelas caras se bifurca irremediavelmente na ressurgente antiga mulher (já antevista na outra).

Uma figura nunca antes vista exibe um chicote a cada take – um enigma compreendido como ditame, motor da hora que escorre numa consagração de Época e Imagem –

Uma inteiramente nova dali se desprende – Bifronte, como que mentada escultura de valores e visões intercambiáveis – Uma garota sempre é aquela que masca um reciclado chiclete. Enquanto se estende e estampa a contraface de uma senhora inclassificável, irrefreado chicote na mão.

A um só tempo, Brigite alterna a pequena peça de controle e comando com um boá lilás manietado a seu pescoço, de onde o retira em poses de glamour capazes de envolvê-lo (artigo de luxo) num mesmo abraço, laço emplumado estirado sobre Bebete. Sem haver da parte da Senhora o descarte do poder de látego (entre o patriarcal mais tosco e a impositiva/imobilista maîtresse sadomasô) ostentado por sua chibata numa das mãos /Estilo e Emancipação – A coluna de Ada Mattoso, especialista em crônica político-social, sublinha, nos dias seguintes à noite do documentário em revista, a roda de eventos descarrilada por Brigite Brites e Bebete Bezos/.


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Desde quando seja silenciado tudo acerca da procedência mais próxima (Assim, o pai e o filho da família Karam trataram de omitir o dado funcional de Bebete, encarregada de vesti-los para a grande noite artístico-empresarial) –

Não importa de onde ela veio – o longe, aliás, é o que desperta o maior interesse: periferia de nome marcado, Crucilândia, p. ex.

Tal localização valoriza um relato de vida hoje. Imagine/Encante: Vida Hoje (de saída, Bebete B recita e realoca Bezos) – Exatamente a vida de hoje (horizonte cerrado para muitos) é mais imaginada do que se pensa


Por isso mesmo, transmite liberdade quando tudo parece pantanoso painel de notícias e likes liames das mesmas faces em viciado círculo (em paralelo com a barreira política neonarconecro liberal diluída em capitais de tráfico de todo tipo/crime estatuído)


Conhecer sua origem, um tempo inseparável de um lugar sempre posto atrás (lá nalguma perdida periferia), suscita um traço itinerante, com certa extração épica. Ainda mais quando Cid se põe ao seu lado, escudo rapper, munido de extensas trajetórias testemunhadas na ponta-da-língua a cantarolar –


O perigo está no que acaba de demarcar os passos de alguém. Por força da pregnante imediaticidade dos rastros, ali expostos (tag ou tarja no instante da aparição de alguém/extração-de-classe) –

O sinal de uma função (vendedora/demonstradora da grife Sancho Hoisel) negaria qualquer lastro. A ponto de achatar a proveniência dela ali, exímia em cotações do mundo-arte (munida do kit empresa-livro compactado pelo nome Jeff Bezos) – Contém risco a origem vinda de um último emprego (caixeira, garota embutida numa butique) –

Um dado passível de limitar Bebete Bartolomeu aos olhos de alguém como Odila Muniz Karam. Muito ao contrário do impacto imediato exercido em Mazé & Kuki (os homens de uma família muito conhecida, estonteados com os ditos frontais da empregada de Confecção quando de uma breve convivência na Mansão Europa, sem contar a intimidade que entre eles se formou).

A garota tomou desenvoltura pelos cômodos da Residência entre um modelo e outro carregado de noções sobre vestir, habitar um tempo (convertido em dizeres refeitos da pauta Jeff Bezos). Além do mais, trazia um rosto indesviável, um toque bastante cuidadoso de mãos nas peles daqueles dois homens unidos por filiação, poderio familiar. (Não é miragem, efeito-do-instante, haver nas cabeças de pai e filho ao mesmo tempo uma fixação naquela recém-chegada em suas vidas).

Mal foi introduzida nas dependências da Rua Alemanha, Ana Elizabeth B. acabou por enveredar pelo Salão Pan da Pauliceia, meses depois coordenando uma expo em andamento performativo nas bandas da Barra da Tijuca. Justo, onde para muitos o Rio de Janeiro ficou conhecido como a Furna da Onça.


Imagine/Encante

Cada momento – Uma margem não exclusiva

À ordem do dia

Ao que se vê como instantâneo referendo/A roupa da hora traz à tona a pessoa ali dentro. De onde? Da pessoa a tomar a roupa de seu desnudamento –

Senão –

Nada se encerra em alguém, na roupa a olho nu