MAPAS CAMINHANTES/JOÃO VÁRIO (Mauricio Salles Vasconcelos)

Publicado em dezembro de 2023 pelas Edições Esgotadas (Portugal), o ensaio Mapas Caminhantes – Poesia do Tempo e da Terra estuda algumas produções poéticas a partir dos anos 1970 em Angola, no Brasil, em Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Princípe, Timor Leste e Portugal. O livro tem sua origem na conferência realizada em Lisboa (UCCLA/União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa 2017), a convite da Missão Brasil (Ministério das Relações Exteriores) em parceria Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Reproduz-se aqui um trecho dedicado à escrita do cabo verdeano João Vário.

Exemplo Vário

O desafio do imediato e o encampamento de uma proveniência obtêm uma formulação renovadora na poética do caboverdeano João Vário.

Sua obra põe em alto grau de debate, ao cume instaurador de uma dicção muito particular, esse confronto definidor da realidade africana, mas que também percute em outros continentes e universos de criação, conhecimento e política na hora de hoje.

Destaca-se sua série Exemplos como matriz contemporânea de poesia não apenas em relação ao perfil tomado pela escrita em Cabo Verde desde os anos 1930 (época em que a ideia de um “sistema literário” em África começa a tomar forma). Mas, também, no que toca ao idioma português vertido em linhas motrizes de imagem-som-verbo.

Como se vê em Angola, o desenho de uma gênese feminina (tomado, por exemplo, em Ana Paula Tavares) de território e terra atua no compósito cultural de uma época globalizada. Mostra-se inseparável do componente afro – assim como de tais sinalizações se desdobram as diferentes localidades e continentalidades – para que exista uma cultura planetária (desígnio bem atual, desentranhado das vertentes proposicionais de Axelos a Deleuze, de Mudimbe a Débora Danowsky).

Em compasso analógico, colhido do saber mapeável no âmbito da poesia (eis o exemplo de Angola), o potencial de transformação nas esferas de existência, política e criação no presente se dá no movimento da história enquanto regresso à instauração das linhas-de-força capazes de revolucionar as noções de tempo e política, com a emergência dos documentos, dos vestígios deixados por linguagens, campos de significação e saber impressos à existência de uma época. A partir de qualquer um vivo, vetor inadiável do tempo. Tal empenho testemunhal, imanente ao crivo crítico-especulativo integrante das dimensões de cada existência (essa uma, minorizada, interiorizada pela voz do poema), se revela evidente no projeto de Vário.

Ativismo não se dissocia de pesquisa, mapeamento1. Bem deixa claro o poema-matriz de Bueti composto em 1978, REGRESSO FEVEREIRO, 4, em conexão viva com 1961, o ano do surgimento do combate descolonizador angolano.

Observação direta, como está no projeto de Ruy Duarte Carvalho – o etnógrafo, realizador cinematográfico e grande poeta em língua portuguesa –, modulável nos atos de fala e construção em blocos/registros vocais engrenados por Nok Nogueira na dinâmica de corpos em busca, inerentes à atividade manual da escrita (cursiva e/ou digital). Em meio aos descaminhos do cotidiano neossecular orientado por ditames econômicos, percutido nos impasses vividos no campo das artes (fundamente repercutido na criação de poesia).

Assim, se leem nos escritos de João Vário as trilhas de seu conjunto de livros nomeados sob a designação Exemplos. Os nove volumes, enfeixando a poética do autor, estão centrados nos “núcleos duros” formados pelas variações do nome exemplo e dos livros que se desdobram (desde os anos 1960 até fins dos anos 90 do último século).

Saber que vem da voz e do livro – do proferimento. Do exemplo a cada contorno tomado pelo exemplo-derivação, tornado imagem e variação. Tudo que conduz a uma rede conceitual, entramada na contingência, no experiencial de um decurso (capaz de contar sua participação nas lutas de independência no arquipélago cabo verdeano e seu exílio em Antuérpia, onde se forma, acabando por se tornar afamado neurocientista).

A partir de uma dicção, de uma certa tonalidade discursiva – característica de seu processo/projeto escritural – uma oralidade central se nutre da extração ressignificadora do que há de testemunho, testamento no campo literário. Assim como o que vem da cultura do livro (por escrito como se fosse, a princípio, voz).

Outra estratégia se lê em face do saber e do fazer africanos nos quadrantes da escrita, do (que está) escrito. Principalmente, quando se realiza um cotejo com os trabalhos dos angolanos há pouco citados.

Por exemplo, o regresso como método instaurador das linhas-de-força em mutação e modulação no tempo (veja-se a produção do angolano João Bueti) acrescidas da figura-piô (pioneiro, criança enquanto marco das revoluções de independência africana nos anos 1960), instala um sentido mobilizador de história ao compassar da infância, enquanto possibilidade de ressurgimento a qualquer ponto do tempo em que o humano esteja (a historicidade revolucionária em insurgência na África de 1961, como ocorreu em Angola segundo o prisma toimado pelo livro Piô em sua desenvoltura genealógica do combate anti-colonial, comunicante até o dia de hoje). Enquanto surgimento sempre revelador da passagem de uma vida sempre redefinidora do que se passou e se engendra no devir do desenrolar do tempo sempre tomado de um agora (nunca insulado em seu estado instantâneo, embora fundamental para qualquer trânsito entre épocas).

Enquanto – uma duração percorre a escrita de João Manuel Varela (o cientista “de nome”, de onde se extraiu a conhecida denonimação na ciência neuro-óptica, de característica anatomoclínica, “Síndrome de Varela”, ao lado do pseudônimo João Vário).

Conjuntamente, a poesia aponta em suas sequências densas, compactas, de discursividade as pistas de sinalizações temporais imanentemente cognitivas (propensas ao que há de conexional enquanto trabalho de montagem, observando-se o referial cinemático de Vário). Essas que traçam uma outra linha-córtex no mapeamento de mente e memória à iminência de ressurgidos, refeitos eventos na linha-do-tempo. Empreendimento envolvido por vocalidade/testemunho, imbuído de um dizer histórico tão intensificado em seu ir-e-vir reflexivo, intermitente, quanto se realiza por um tom abrangente, ainda não disposto, nem conhecido, senão por alíneas de uma memória/montagem operacionalizada também por Herberto Helder. Exame, escrutínio integrais da palavra verbalizada no espaço da poesia enquanto construção diagramática erguida por alto teor de visualidade e combinação de planos/momentos/referências/topologias –

Bioexperimentalidade, mesclada com sonda cartográfica em vários eixos. De uma maneira bem próxima dos autorretratos godardianos de si e do século, daqueles também de Lyn Hejinian, em My Life, em completo dissenso com o nicho monotemático das “autoficções”, movido por critérios de verdade/verossimilhança de alguma denúncia depoente/historicismo monossêmico –

Vário aviva no campo escritural a acepção de signatura investigada por um filósofo como Agamben. Especialmente quando se vê frisada a lida com o dado do paradigma,2 na arquigenealogia que cria ao expor o dizer integral do tempo. Quanto mais faz marcar a finitude impressa ao juramental, capaz de entrelaçar a experiência do testemunho pelo poder abarcador das linhas formadoras de uma vida, eminentemente discursivizada, guiada pelo toque da fala (onde reside o senso mais possante do trabalho escrito, enquanto letra lavrada sob dicção/depoimento).

Bem está grafado em Signatura Rerum – A assinatura das coisas o traço de que “a historicidade do paradigma não está na diacronia nem na sua sincronia, mas numa cruz entre elas” (Agamben, 2008: 15).

Um sinal cruzado, em vias de atravessamento indica o que não está encerrado, nem direcionado para um polo centralizador. Inexiste saber englobante, final, tendo-se em pauta que o modo de referendar o paradigma se dá em desvinculação de um sistema, através de uma descrição – apontamento referencial – encaminhada ao senso de uma criação (inseparável de uma forma outra de reunir).

O exemplar não faz regra” (Ibid.). O exemplo é p. ex. (Procedência e dissolvência em trama cerrada, não encerrada). A cada vez experimentado entre verbo e reverso da situação existencial-enunciativa em que todo vivente se dá como falante. Por exemplo ou, seguindo-se o cume escritural de Helder: “Se morro, é por exemplo” (Helder, 2006: 523). Vida e morte fazem cruzamento, diagrama experimental para lá de uma comporta divisível, dividível, adstrita a um único sujeito, à causa final do conhecimento (porque se pontifica o não-saber constitutivo do humano em um inapartado campo-de-provas, mais o extradito/extracampo da poética a romper limites órficos, espirais, de ver/enunciar).

A escrita de Exemplos não deixa de demonstrar seu caráter situacional. Como se nota em suas extrações do dizer juramental/testemunhal (advindo explicitamente de uma vivência/do vivido) colhido no documento-livro (da Bíblia, sempre recorrente, às obras matriciais da literatura e da filosofia de todos os séculos), ganhando nítido cume no segundo século XX anunciado em sua forma mais reveladora com o advento da Segunda Guerra Mundial, em gestação juntamente com o nascimento/crescimento do poeta Vário (desde 1937).

Uma recolha historiográfica do escrito e suas manifestações em outras artes/áreas do conhecimento se dá imprescindivelmente traçada no reverso: à gradação da conquista de uma voz – no ato do depoente/escrevente – por meio da dicção-poesia. Através de um senso de integralidade a envolver as emissões explanativas de uma história-de-vida (desveladoras do texto/tom discursivo do autor) inapartável da experiência da história como palco de relações intrincadas, incessantes com uma vasta coleção de autorias/assinaturas literárias, musicais, plásticas, cinemáticas, filosóficas, científicas. Integralidade encampada pelo projeto-exemplo de Vário, de um modo único em língua portuguesa – ainda que se vejam elos fortes com a contundência explanativa de João Cabral de Melo Neto e a abertura maximal de veios, em Herberto Helder –

Onde faz sinal o análogon de todo existente – ainda na perspectiva de Agamben –, justamente para se mostrar nitidamente o modo de criar paradigma – o exemplar em J Vário se faz não precisamente onde (para fora de todo referendum), mas quando (em seu processar, na intervenção feita a contar de todo-escrito). Por meio de uma desvinculação do normativo, do conhecimento regulado/regrado, bem além da oposição entre generalidade e particularidade.

Assim é que todo signo não se desmembra do dado da assinatura compreendida enquanto profanação vinda do juramentado ato de escrita (em indisposição com qualquer ditame/ditado de uma ordem superior). Da forma que se lê nos tomos discursivos, ligados por conexões anti-líricas bem incomuns no contexto da língua portuguesa (inusitados em um sistema de autorias literárias cabo verdeanas): “O conjunto paradigmático não é jamais pressuposto aos paradigmas, senão que permanece imanente a eles” (Ibid.)

Todo paradigma – adstrito à repetição contingente do exemplo – faz conjunto, induz a uma genealogia dos atos enunciativos.

Pelo que se diz: sendo o homem

o único litoral que ele rememora,

a palavra é a grande duna

que para ele avança, tentando cobri-lo

pelas arestas, tal mágica bruma.


(E enquanto o Reno, o Tamisa e o Sena

as pegadas de João preparam

e Fred e Ginger com Shall we dance

de novo seus fans encantam

e as palavras hold up e cinemateca,

nesse ano do certificado da demência do Terceiro Reich,

para o vocabulário internacional entram,

muitos eram os que inquiriam: haverá outra coisa

que o vento propício recolhendo os enredos

e disseminando o necessário teor de favores e de fervores,

se a ansiedade for a melhor escada da interrogação?

(Vário, 1998: 47-48)


Caso se busque uma aproximação com as formulações de Antonio Damásio, no campo da neurociência, ficam em destaque as relações entre as linhas do tempo e a disposição dos eventos na esfera memorial. Em especial, no livro-suma que é Exemplo Coevo – livro último –, a recorrência paradigmática, interior à cartografia do ano de nascimento de João Vário em seus máximos desdobramentos nos domínios culturais, artísticos, científicos, políticos, não subsiste sem o proferimento ante os deferimentos. Quanto mais se edificam na planta-plano de vida obra – Exemplo Número 9 – a poiesis e a diagnose, a lavra analítica e a performatividade a partir de documentos/monumentos (as grandes criações em todos os campos, “tudo” o que há em 1937, na órbita do ano em que um autor vem à vida, em Cabo Verde).


O livro do fim –

Assim como se lê no ensaio de Agamben “O fim do poema” –

A escrita no gênero abre uma linha última inaugural, em seu poder súbito de fecho e a um só tempo pendente do seu início, ao limite mais abeirado do que não está mais construído, ritmado, coeso, porém coevo do surgimento da voz da poesia (para lá dos acordos sonoros-significativos até então mantidos em sua cadência verbal). Agamben frisa silêncio/abismo/vazio quando essa “outra voz” (na feliz formulação de Paz) ecoa. Um off acoplado a todo escrito emerge, sem sustentação, entretanto, na procedência do vocal feito verbo. A escrita até o fim (na borda de seu superposto silêncio, um não-fecho, quando o nascimento da dicção no interior da linguagem se processa, procede, então).

Da mesma forma que na dinâmica do tempo, após a aquisição da linguagem de toda criação, a história dessa vida (qualquer uma) só dará plenamente a existência de um princípio norteador – eixo-infância –, quando conexa ao estágio mais avançado da idade (em um descontínuo desdobramento, descoberta incessante do que transcorreu e não para de transitar em cada instante a refazer a suma meramente evolutiva, cronológica de quem/o que passa). Voz que vem na História (a história mesma de uma vida reconstruída quanto mais se esvai, faz passagem). A infância/a história (de novo, Agamben) – Da ordem do depois (do exemplo, inseparavelmente referendado pela dicção).

Trata-se do que tende a um fim. Porque só assim a exemplaridade de um testemunho dado com a voz integral de alguém pode valer sobre toda linguagem legada.

Ou pelo ditado, como está mais uma vez na ideia de prosa segundo Agamben (rememoração exemplar em que o memorial traçado pela espécie atravessa o humano/um-qualquer dotado da força inaugural de uma emissão). Entre o ditado (transcrito/proferido a partir de todo-dito) e o exemplo ainda por dizer.


Acaso os fatos relatados

terão tido influência sobre a minha vida?

– pergunta-se o escriba, recolhendo o seu quinhão

de réplicas e de premissas distribuídas

pelo questionador incomparável.


Em verdade, em verdade,

a compreensão das coisas

a usura do tempo ultrapassa (Ibid.: 48)

A voz no fim (tornada gênese de outros tempos, desde aquele que se fixa em 1937, assim como se dá a construção da série Exemplos dos anos 1960 até o fim dos 90), ecoa em pleno século XXI. Revela-se poema do fim de um tempo e da finitude moduladora da parataxe-paradoxo encadeada por ser – palavra – história – poesia (um gênero palindromicamente envolvido, renomeável por seu fim).

Uma tese para a África, tal ingresso na escavação de algumas gêneses se dá para o que é conjuntamente local e temporal, com base no tom declarativo, referendado no lastro paradigmático marcante de Vário. Paradigmas em linhas combinatórias, plurificadas, performadas no interior de uma poesia-montagem dos dizeres, inscrições e imagens de muitas épocas. Trazem, então, o sentido construtivo de uma arquivística impressa ao movimento memorial (no âmbito das assinaturas, através do decurso do não-dado, nascente experiência de tempo e linguagem).

Teses para um africano, nutrido do empenho descolonizador, imbuído, paralelamente, da ação exploratória comum aos caboverdeanos, em exílio recorrente do país-arquipélago. Como já se podia ter contato no pequeno livro (antipanfleto, embora no calor urgente de uma breve edição/emissão), O primeiro livro de Notcha, Discurso V, assinado por outro nome de João Manuel Varela, além de João Vário, Timóteo Tio Tiofe. Ou T. T. Tiofe, como está na capa do livreto publicado em 1980, com epígrafe de Amílcar Cabral.

Ou ainda Geuzim Té Didial (quando Varela escreve os Contos de Macaronésia) – O poeta, o narrador, o proponente revolucionário da independência africana, o cientista laureado na Bélgica (uma Europa menor, abeirada de outras vizinhanças limítrofes entre-continentes), num só homem, criador do projeto de uma poesia instaurada no tempo (numa aproximação autônoma com vertentes exponenciais do século XX, reconhecidos pelo próprio Vário em Eliot, Pound e Saint John Perse)3. Como se lê em suas construções de livros-tomos sob o tonus do exemplo, no enfrentamento de súmulas totalizadoras da voz vinda do escrito.

Um tema mobilizante para a África de agora, no momento em que o último livro publicado pelo autor recepciona os veios de um itinerário traçados à volta de 1937, transitivamente lançado ao fim do segundo milênio –

Um exemplo de livro que é, antes de tudo, coevo, no processo de seu desenrolar e seu espírito de arrolamento, enquanto arquivo e artesania. A contar de um grande livro do tempo – século das grandes guerras (como definiu Hobsbawm) – gestado em África.

Em emergência e proveniência – para se dizer numa voltagem contemporânea de genealogia, de Foucault a Agamben. Entre África e suas margens.

Acaso terá um ou outro

dos acontecimentos relatados

influenciado o seu destino?


Em verdade, em verdade,

nada obriga o tempo a falar da sua vida de tempo

senão a vida que leva a criatura com a arbitrariedade,

que é como quem diz: todos os alhos e dons são

da coerência da imensidade, resgate coevíssimo.

(Vário, 1998: 30)

1 Ativismo não se desmembra da gnosiologia inerente à ontologia crítica pensada por muitos como Mbembe, Agamben, Guattari, Viveiros de Castro/Débora Danowsky, Avital Ronell.

2 O importante e pioneiro ensaio sobre João Vário, “Sair do paradigma da dívida”, de Silvina Rodrigues Lopes expõe muito bem que o referendamento cultural do poeta entranhado no projeto Exemplos e de modo visivelmente recorrente, referencial, em Exemplo Coevo, descarta o tributo, a reverência, a hierarquização no modo como acontece o ponto cruzado do nascimento do autor (1937) com o curso da História. Tudo em Vário faz mover um empenho anti-ilustrativo e nada autopositivo acerca do lugar pretensamente autônomo do literário. Ao contrário, o que há de cariz epicizante, com suas marcas narrativas evidenciáveis, envolvidas por um lastro abrangente, abarcador de experiências, “surge então como salvaguarda de qualquer tentação doutrinária ou totalizadora: as significações de que os fatos históricos estão, por definição, investidos, perdem a sua força constrangedora quando fazem parte de uma estruturação que não só não se vincula a uma hierarquia, mas interrompe a ordenação histórica, desde logo porque é no exemplo, no assim, aqui (espaço-tempo do poema), que os fatos são citados a comparecer e é, por conseguinte, o jogo único de afinidades, contrastes e ressonâncias que os integra como referências para o pensamento”. (Lopes, Silvina Rodrigues, 2009: 251).

3 “Há dias, ao ouvir A Paixão Segundo São Mateus, de J. S. Bach (compositor cuja música, do mesmo modo que a de Bartok, foi importante, como indiquei algures, para a minha maneira de compor versos, de escrever poesia, tanto como o estudo da grande póetica – e.g., Eliot, Pound, St. John Perse), dei-me conta de algo que me havia escapado nas minhas frequentes leituras da Bíblia: Cristo (ou Deus, dirão alguns) escolheu para erguer a sua igreja o discípulo, Pedro, que, por falta de coragem, o havia negado três vezes” (Vário, 1998: 11).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGAMBEN, Giorgio. Ideia de prosa. Trad. João Barrento. Lisboa: Cotovia, 1999.

__________. Signatura Rerum – Sobre el método. Trad. Flavia Costa e Mercedes Ruvituso. Buenos Aires: Adriana Hidalgo, 2008.

___________. “O fim do poema”. Trad. Sergio Alcides. Site PoeMargens. 2010.

BUETI, Rui. Piô. Luanda: Imprensa Nacional, 1978

DAMASIO, Antonio. A estranha ordem das coisas: as origens biológicas dos sentimentos. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Trad. e org. Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

HELDER, Herberto. Ou o poema contínuo. São Paulo: Girafa, 2006.

LOPES, Silvina Rodrigues. “Para sair do paradigma da dívida – A partir da leitura de João Vário”. In Via Atlântica. Nº 15. USP/Área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa. 2009. ps. 43-53.

PAZ, Octavio. A outra voz. Trad. Moacyr Werneck de Castro. Rio de Janeiro: Rocco, 1991.

TIOFE, Timoteo Tio. O primeiro livro de Notcha, Discurso V. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1980.

VÁRIO, João. Exemplo coevo. Praia/Cabo Verde: Spleen, 1998.

___________. Exemplos. Livros 1-9. Mindelo: Pequena Tiragem, 2000.

VASCONCELOS, Mauricio Salles. Mapas Caminhantes – Poesia do Tempo e da Terra. Lisboa: Edições Esgotadas, 2023.

Publicado em 10/01/2024