A sedução polifônica do teu silêncio

- Abilio Godoy

A sedução polifônica do teu silêncio


Querida Ana C.,


lembrei de você ao reler aquela passagem do Fedro1 em que Sócrates narra a seu interlocutor a lenda da invenção da escrita. Conta o herói-filósofo que a novidade foi oferecida por Tote2 a Amon, que, contudo, a lamentou por seu potencial de enfraquecer a memória (ao substituir seu uso), e de emprestar aos ignorantes a aparência da sabedoria. Isso porque o conhecimento só poderia se inscrever na alma das pessoas3, que, em posse dele, respondem pelo que sabem. Diante do escrutínio dialético, um texto escrito diria sempre o mesmo, e sobre todo o resto calaria, como calam os personagens das pinturas. Escrever, portanto, serviria como mero jogo lúdico, distração de reles poetas, ou só como um lembrete para a verdadeira sabedoria, inscrita na alma dos verdadeiros sábios.

Pois foi justo pensando no que um texto cala, em tudo que pode dizer, e diz, com o silêncio, que me lembrei de você, e da tua poesia. E assim colhi todo um buquê das margaridas raras que você roubou de Proust4: a primeira vez que te encontrei, numa sala da faculdade de letras da USP; a aparição dos teus óculos-escuros na minha casa, surgindo da caixa da livraria, estampados na capa rosa-azulada da tua Poética; a voz do meu amigo poeta Danilo Bueno, lendo para mim, no meu escritório, o poema de abertura de A teus pés, e encerrando a recitação com a sentença eliotiana: “esta é Ana Cristina; é ela que hoje tentamos superar”.

Aliás, como é bonito, talvez insuperável, o poema das margaridas. Releio-o em voz alta, e ouço tanto no teu silêncio, aprendo tanto com ele, que sou obrigado a ter pena de Platão, que viveu cedo demais para entender a força expressiva de um palimpsesto como “contagem regressiva”5, e admirar a sedimentação das camadas geológicas na parede rochosa de um cânion, os fósseis encalacrados na cara do presente (“Acreditei que se amasse de novo /esqueceria outros/pelo menos três outros rostos que amei/(...)/no entanto flanco aberto não esqueço/e amo em ti os outros rostos”), dos quais uma “ciência dúbia porém ágil”, “de pequenos sábios a dar palpites6”, extrai o DNA ancestral de ritmos involuntários (“E do meu pai marceneiro/herdei este ritmo de serra”).

Sei que muito já se disse sobre teu silêncio, em especial sobre como você o usava para enovelar o leitor na trama do segredo. Annita Costa Malufe comentou que a tua obra “depende da não-decifração, não-sobrecodificação do silêncio, do lapso, para fazer sentido – pois o seu sentido é justamente o de tornar sensível o movimento, a pulsação do segredo7; e Roberto Zular caracterizou tua “poética como forma do segredo, onde a questão do que expor do processo (e como) torna-se central: o segredo é a ética que percorre essa poética”8. Peço licença para insistir no assunto, que me interessa na relação que a tua poesia tantas vezes estabeleceu entre “o silêncio que não é mudez” e a “crueldade intensa de santa que te toma as duas mãos”9; e peço também licença para mencionar a abertura daquele que deve ser o teu poema mais comentado10: “Por afrontamento do desejo/insisto na maldade de escrever.”

Retomo, então, do meu buquê uma margarida roubada e recordo meu primeiro contato com a tua poesia, num curso optativo de teoria literária da graduação, oferecido por Viviana Bosi. Pois foi esse mesmo o poema do nosso encontro: “nada, esta espuma”, e me lembro bem do fascínio que me causou teu enigmático sexteto. “insisto na maldade de escrever” – e precisei mastigar por algum tempo o substantivo maligno11. Sim, eu conhecia Baudelaire e tinha decorado, na adolescência, sonetos do nosso “filho do carbono e do amoníaco12, mas me faltava repertório e maturidade para deglutir a maldade. Viviana Bosi tentou mitigar a primeira falta; a segunda só o tempo remediaria.

Claro que não inovo ao me debruçar sobre tua maldade. Mauricio Salles Vasconcelos, por exemplo, recuperou, no ensaio “Extracampo”, a relação entre a “‘maldade de escrever’ (...) e o mal-estar incontornável na civilização, na modernidade, pontuados desde Baudelaire.”13 Entretanto, foi nos teus próprios textos críticos, em especial em dois artigos de 1977, o primeiro na revista colóquio/letras14; o segundo, no jornal Opinião15, que encontrei as pistas que mais me ajudaram. Neste, você desfiou, para discutir o lugar social do escritor e sua relação com o mercado, tuas próprias rusgas com Platão16; naquele, comparou o papel contestador de dois bobos literários. E foi partindo da tua caracterização da figura do bufão como practical-joker, como “diabo por profissão, na sua relação com o poder instituído”17, que comecei a pensar o segredo da tua maldade na chave de uma ética do poeta como trickster.

Joseph L. Henderson descreveu dois aspectos desse arquétipo no texto “Ancient myths and modern man”, incluso no clássico Man and his symbols, organizado em 1964 por Carl G. Jung. A uma concepção primitiva de uma figura infantilizada, cruel, cínica, insensível, “sem qualquer propósito além da gratificação das sua necessidades primárias”18, associada com frequência a pequenos mamíferos ágeis, como o coelho, a raposa e o coiote, contrapõe-se uma segunda, em que o trickster assume a forma transcendente do xamã, intermediário dos deuses, “cujas práticas de magia e voos intuitivos o tornam um mestre primitivo da iniciação. Seu poder é sua suposta habilidade de deixar seu corpo e voar pelo universo afora como pássaro”19. Com efeito, mais adiante20 Henderson reconhece como exemplo dessa segunda configuração o deus grego Hermes, mensageiro alado dos olímpicos, identificado, aliás, com aquele mesmo Tote egípcio, o íbis21, a quem Platão atribui a invenção da escrita.

Deixando por ora de lado essa relação entre trickster e escrita, ave mensageira e transcendência (literária), seria interessante relembrar, trazendo da memória um rol expresso dos manhosos pregadores de peças e semeadores do caos que marcam a imaginação humana, o papel reiterado que desempenham, mesmo quando assumem a primeira configuração inconsequente que Henderson julgou mais primitiva, de questionadores da ordem e do poder estabelecido. Éris, Satã, Exu, Seth, Loki, Saci-Pererê, Odisseu, Anansi, Sísifo, todos cumprem, de um modo ou de outro, essa função em suas lendas, nas quais desafiam amiúde, com esperteza e rebeldia, a arrogância de divindades superiores ou a rigidez das estruturas hierárquicas. Tendo em vista este traço comum, bem como o elemento de transgressão diabólica que você apontou em Hop-Frog e em D. Bibas22, a todo trickster parecem convir as famosas palavras do Satã de Milton, better to reign in Hell, than serve in Heav’n23.

O que dizer então do Trickster enquanto escritor? Quem foram os practical-jokers, os pregadores de peças e semeadores de caos que desafiaram, com a tinta da maldade, a ordem e o poder? A lista, claro, é inesgotável. Para nos lembrarmos de alguns casos famosos, poderíamos mencionar Ovídio, que zombou com seu poema paródico-pedagógico sobre sedução de mulheres casadas24 da poesia didática e institucional patrocinada por Augusto, e morreu exilado nos confins do império; Petrônio, que pintou um retrato ferino da decadência social de Roma sob Nero e, perseguido e preso, abriu as próprias veias25; Rabelais, que fugiu da França em 1546, acusado de heresia; Molière, que cumpriu o papel de bobo institucional da corte de Luís XIV; Gregório de Matos, nosso boca do inferno, que semeou inimizades mortais com sua poesia irascível e foi degredado para Angola; Swift, cujos escritos políticos, farsescos e polêmicos, trouxeram a inimizade da rainha Ana da Grã-Bretanha e o autoexílio na Irlanda; Sade, cujo esgarçamento extremo, em literatura e em vida, das contradições da nascente moral burguesa lhe valeram uma década de Bastilha; teu Baudelaire querido26, que acompanhou, inclusive das barricadas de 1848, todo o (contra)fluxo (contra)revolucionário dos anos de 1830 a 1851, culminantes no golpe de Luís Napoleão Bonaparte, e cuja publicação d’As flores do mal, em 1857, logo censurada, escandalizou a sociedade conformista francesa.

Como eu disse, a lista é inexaurível e os nomes se acumulam até hoje. Interrompi a enumeração em Baudelaire de propósito, não só para celebrar a efeméride dos 200 anos do seu nascimento, mas sobretudo por conta do seu papel como arquiteto da modernidade e uma das tuas grandes inspirações. De toda forma, já podemos extrair desse pequeno rol de escritores-tricksters o elemento comum da maldade literária como contestação e rebeldia. Ademais, há o paralelo entre Baudelaire e os teus companheiros de geração no que concerne à frustração diante da reação do poder às ondas progressistas de 1848/1968, e à adoção não só de um estilo transgressor, como também de um modo de vida desviante, marginal27. “Eu quis cantar minha canção iluminada de sol”, entoavam os Mutantes em 1968, “(...) Soltei os tigres e os leões nos quintais/ Mas as pessoas na sala de jantar/ São ocupadas em nascer e morrer”28. Confrontados com as cabeças de hidra da moralidade pequeno-burguesa, tanto Baudelaire quanto os poetas da Geração Mimeógrafo responderam insistindo na maldade de escrever, isto é, tratando de recuperar a função milenar do trickster para arrancar, com manha e malícia, o hypocrite lecteur da sua apatia, numa tentativa exasperada de espremer ainda da linguagem alguma possível transcendência. Não por acaso, com efeito, lá está, no poema de abertura d’As flores do mal, o mesmo elemento diabólico que você recuperou na tua poética e na tua crítica, além da invocação sugestiva a Satan Trismégiste, designação demoníaca associada a ninguém menos que Hermes-Tote-Djeuty.

Acredito, portanto, querida, que, mais do que se expressar como cinismo ou crueldade, tua maldade servia para ferir o status quo e a indiferença. “E eu quero é que esse canto torto feito faca/Corte a carne de vocês”29, confessava Belchior, e você, o que queria, era furar com teu verso-alfinete a pele do leitor que, assim como o Conde Del Mar dos quadrinhos que você criou na infância30, tem o rei na barriga. “É para você que escrevo, hipócrita./Para você – sou eu que te seguro os ombros e grito verdades nos ouvidos”31, você desabafa em “fogo do final”, explosão controlada, misdirection de ilusionista, como você mesma se assume no epílogo de Luvas de Pelica32, mostrando de relance ao leitor as cartas na manga, apenas para, cumprindo com teu dever de mestre da iniciação, lembrá-lo de desconfiar dessas verdades gritadas à f for fake33. “Fico esperando na janela – fazendo uma figura – você vê? – com truques”34. “hoje sou eu que/estou te livrando/da verdade”35, você anuncia a intervenção cirúrgica, cujo bisturi não é senão teu calar subsequente. O fio da tua faca afiava-se nas faltas. O silêncio é a chaira cintilante do teu verso cimitarra. Silêncio que, segundo Kafka, era também a maior maldade das sereias36. “Nun haben aber die Sirenen eine noch schrecklichere Waffe als den Gesang”, ele revela, “nämlich ihr Schweigen” 37; silêncio que Odisseu, por tentar burlá-las, amarrando-se ao mastro e tapando os ouvidos com cera38, teria merecido e do qual, de acordo com Kafka, talvez só teria escapado ileso por, graças a sua astúcia, ter fingido que as ouvia.

E ao relembrar tais seres marinhos sou arrastado pela força do canto da tua sereia de papel de volta para “nada, esta espuma” e seus versos de obsidiana envoltos num silêncio tático que, para descrédito de Platão, deixa o corpo do poema num voo intuitivo, realejo portador de recados de Mallarmé, Homero, Kafka, Blanchot; e de novo tenho que reconhecer que ando sobre pegadas alheias pela vereda em que se analisa a costura que costuma acompanhar teu corte sempre que você está “farta dessa falta enxuta” e quer “antes/a página atravancada de abajures/o zoológico inteiro caindo pelas tabelas/a sedução os maxilares/o plágio atroz”39 . Nessa mesma trilha, Italo Moriconi escreveu que “Ana desentranhava poemas de outros poemas”40; Annita Costa Malufe falou em enxerto41; Mauricio Salles Vasconcelos emprestou da filósofa Avital Ronell a ideia de telefonia42; Roberto Zular descreveu uma ecolalia43; Armando Freitas Filho falou em cleptomania estilística44. Quanto a mim, quando penso nas tuas colagens, lembro-me do advento da polifonia musical no fim da Idade Média, em especial sob a forma do moteto45. Mas, independente da imagem que se use para descrever tua técnica de corte e costura, creio que o mais importante é sublinhar a relevância dessa intertextualidade na tua poesia, que, concordam os críticos, foi dos principais aspectos a te garantir um lugar de destaque na tua geração.

“nada, esta espuma”, cujo título é tradução da abertura de “Salut” de Mallarmé, afronta, desde o primeiro verso, o poema original. Em resposta ao brinde antirromântico do poeta resignado à popa, fleumático diante da tropa longínqua de sereias inversas, você se posiciona à amurada do teu próprio barco, no interregno que convém ao trickster, entre a aceitação da deusa e o castigo dos seus uivos, entre a imanência do desejo pelos seios e a transcendência maldosa da escrita, para dali erguer tua taça de curare, teus versos de iniciação xamânica. E, se os Campos e Pignatari traduziram a última linha mallarmaica n’“um branco afã de nossa vela”, a você, postada no entrelugar calculista da tua poética, tocaiada feito Anansi46, à espera do leitor numa aracnídea armadilha47, não deve ter escapado que toile, em francês, além da vela do barco é também a tela do pintor e a teia da aranha. Em uma só palavra: ímpeto, arte e arapuca.

Retrabalhando a tradição, você tecia tua teia de retalhos e atraía o leitor com teu canto entrecortado de sirênico silêncio, tramando teus motetos sem esquecer os limites impostos pela opacidade da linguagem. “Os poemas são para nós uma ferida./cachoeira/de repente alguém diz a palavra cachoeira/e ela se medusa//insolúvel/intimidade/piche insolúvel/negro”48. Assim tua poética se debate, ímpeto contido, num atravancado ir e vir de sedução e repúdio, “atração e repulsão”49, “os acenos afetuosos e os afastamentos bruscos”50. Decifre-me ou te devoro, você arremeda a esfinge, mas não queira me decifrar. “Não me toques/ nesta lembrança./Não me perguntes a respeito/que viro mãe-leoa/ou pedra-lage (...)/Estas são as faces da minha fúria.”51 “É inútil/ficar à escuta/ou manobrar a lupa/da adivinhação.”52 O poder primordial de alçar voo de que dispôs por tanto tempo o trickster entra em crise com o albatroz desajeitado de Baudelaire, e a apatia imóvel das suas corujas. “Vamos devagar com os poetas”, escreveu Zulmira Ribeiro Tavares, “Por que são aves?/Porque regulam o peso dos seus braços/e conforme cismam – voam./Ávis-trote porque pulam/inesperadamente /e quebram os braços.”53. “One day I am gonna grow wings”, anuncia o verso da banda Radiohead, “A chemical reaction/Hysterical and useless”54. O sobrevoo transcendente do íbis fica reduzido na modernidade a um adejo galináceo de curto alcance, ou, nas tuas palavras55, “voos supérfluos em direção ao chão”.

Essencial, entretanto, é não tomar o ódio como oposto do amor. As faces da tua fúria são, antes, amor inverso – a sereia invertida do verso mallarmaico; afrontamento do desejo de encontrar na poesia o outro; poetização e politização do desejo, como escreveu Mauricio Salles Vasconcelos56. Num elaborado ritual de corte, você tira o leitor para uma dança que tem um pouco do tango, jogo passional de sedução e abandono, e um pouco da dança-fantasma do paiutes57, ritual de busca semidesesperada por comunhão e transcendência. Num dos hinos mais famosos do Rigueveda58, está escrito que são os poetas, movidos pelo desejo, quem resolve o impasse entre a existência e a não-existência. Numa concepção divergente da de Platão, são eles que, no hino védico, são capazes, ao optarem como você pelo “olhar estetizante”59, de reconciliar o ser e o nada, o dito e o não-dito, o silêncio e o canto. “Il faut imaginer Sisyphe heureux60, conclui Camus no seu ensaio sobre o mito desse trickster, enganador dos deuses e trapaceador da própria morte, que reencontra sua liberdade e alegria na aceitação da sua tarefa tão penosa quanto vã. Também você, Ana, queria que se encontrasse alegria nos teus supérfluos voos de pat(h)os61. “A teus pés é um livro alegre.”62 “Não consigo transmitir para você uma verdade acerca da minha subjetividade. (...) Eu opto pelo literário e essa opção tem que ter uma certa alegria. Ela é engraçada. Não é uma perda como parece.”63

É essa alegria que hoje me faz te escrever. Por ela, pelo afrontamento do desejo, pela insistência na maldade que nos livra de toda verdade, pelo silêncio sirênico do verso cimitarra, pelo corte e costura dos motetos polifônicos, pela sedução e pelo repúdio, pelo tango e pela dança-fantasma, pela conciliação entre o ser e o nada, por todos os bonitos voos patéticos, a teus pés, eu te agradeço.

Com carinho,


Abilio Godoy.

Escritor, mestre em teoria literária pela USP, autor de Plano de Fuga (2013).



______________________________________________

Referências bibliográficas:

- S/A (tradução de DONIGER, Wendy) The Rig Veda. Londres: Penguin Books, 1981.

- BAUDELAIRE, Charles. Oeuvres complètes. Paris: Éditions Robert Laffont, 1980.

- BOSI, Viviana; FALEIROS, Álvaro; ZULAR, Roberto (orgs.) Sereia de papel – visões de Ana Cristina Cesar. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2015.

- CAMUS, Albert. Le mythe de Sisyphe. Paris: Gallimard, 1942.

- CESAR, Ana Cristina. Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

- __________. Crítica e tradução. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

- HOLLANDA, Heloisa Buarque de. 26 poetas hoje. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

- KAFKA, Franz. “Das Schweigen der Sirenen”. https://de.wikisource.org/wiki/Das_Schweigen_der_Sirenen

- MORICONI, Italo. Ana Cristina Cesar: o sangue de uma poeta. Florianópolis: HB Editora, 2016.

- PLATÃO (edição bilíngue com tradução de SOUZA, José Cavalcante de). Fedro. São Paulo: Editora 34, 2016.


















1 PLATÃO (tradução de SOUZA, José Cavalcante de), 2016.

2 Deus egípcio (/Djeuty/), patrono do conhecimento e da sabedoria, reconhecido por sua cabeça de íbis. Os gregos o chamaram de Θώθ (/Thoth/), ou Θεύθ (/Théuth/). À transliteração “Teuth” de Souza, preferi a forma aportuguesada mais corrente.

Escolha semelhante fiz para o nome do deus Amon: (/Imn/), em egípcio; Ἄμμον (/Ámmon/), em grego clássico; “Ámmon” na transliteração de Souza.


3 De preferência, filósofos platônicos.

4 No poema “contagem regressiva”, Ana Cristina Cesar brinca com a imagem mais famosa de Proust: “Numa prise de pique proustiano/em vez de madalenas/eu ia dizer: margaridas.”. 2018, p. 273.



5 2013, Pp. 270-275. Todas as citações deste parágrafo são deste poema.



6 Estaria inscrita nas suas almas a Verdade que Platão exclui da poesia?






7 2015, p.78. Grifo meu.




8 2015, p. 94. Grifo meu.

9 Ambas citações do poema “encontro de assombrar na catedral”: Frente a frente, derramando enfim todas as palavras, dizemos,/com os olhos, do silêncio que não é mudez./E não toma medo desta alta compadecida passional, desta/crueldade intensa de santa que te toma as duas mãos.”. 2018, p. 95.

10 nada, esta espuma”. 2018, p. 27.


11 Talvez até nos ataques noturnos de bruxismo.




12 Augusto dos Anjos. A citação é do poema “Psicologia de um vencido”. 1994, p.12.

13 2015, p. 123.

14 O bobo e o poder em Poe e Herculano”. 2016, pp. 209-220.

15 O poeta fora da república: o escritor e o mercado”. Op. Cit. p. 224-230.

16 E seu reiterado desapreço por poetas.

17 Ibid.






18 1968, pp. 103-104. Tradução minha.







19 Op. Cit., p. 147.

20 Op. Cit., p. 155.

21 Outra forma de escrever o nome de Tote (Djeuty) em hieróglifos:

(ideograma do íbis à frente e a de divindade ao final, intercalando o um t e um y fonéticos.)






22 Protagonistas do conto “Hop-Frog”, de Poe, e do romance O bobo, de Alexandre Herculano, cuja construção literária foi analisada for Ana Cristina Cesar no artigo “O bobo e o poder em Poe e Herculano”. 2016, pp. 209-220.

23 Melhor reinar no inferno, do que servir no céu. Verso 263 do Livro I de Paradise Lost, de John Milton.




24 A Ars Amatoria, ou A arte de amar, que até hoje se vende em bancas de jornal e é lido a sério por muita gente.



25 Suicídio que, parece, deu origem à lenda de que ele teria escrito o Satiricon com seu próprio sangue, enquanto morria, deixando ordens de que a obra fosse enviada ao imperador que o condenara.



26 Ana Cristina Cesar o chama assim no poema “21 de fevereiro”. 2013, p.36.






27 Ana Cristina Cesar escreveu, em 1979, a respeito desse tema, o trabalho “Literatura marginal e o comportamento desviante”, para uma disciplina do seu primeiro mestrado, em comunicação na UFRJ. 2016 (pp. 244-255).

28 Trecho de abertura de “Panis et circences”, composta por Caetano Veloso e Gilberto Gil, e gravada em 1968 pelos Mutantes.














29 Versos da canção “À palo seco”, do álbum Alucinação, de 1976.

30 2013, p. 128.




31 2013, p. 121.


32 2013, pp. 72-74.




33 Filme de Orson Welles de 1973, mencionado por Ana Cristina César em A teus pés. 2013, p. 98.

34 2013, p. 71.

35 2013, p. 100.

36 Cf. o conto “Das Schweigen der Sirenen”. https://de.wikisource.org/wiki/Das_Schweigen_der_Sirenen

37 Mas as sereias têm uma arma ainda mais terrível que o canto, a saber, seu silêncio”. Tradução minha.

38 Nesse ponto Kafka diverge do relato tradicional da Odisseia, de acordo com o qual o herói tapa os ouvidos dos tripulantes do seu barco com cera; mas se amarra ao mastro com a própria audição desobstruída.

39 Trechos de “33a poética”. 2013, p.325.

40 2016, p.73. Grifo meu.

41 2015, p.73.

42 2015, p.108.

43 2015, p. 96.

44 Duas ou três coisas que eu sei dela”. In: CESAR. 2013, p. 467.

45 Forma composicional que, adequada ao gosto da época por erudição e abundância de referências, surgiu com o acréscimo de texto latino às cláusulas de descante das missas, cujo tema era assim glosado. Com o tempo, porém, a letra adicional começou a aparecer também em línguas neolatinas e a tratar de assuntos profanos. Por fim, motetos ainda mais complexos surgiram, já não só em duas, mas em três vozes, como na famosa De ma dame vient, de Adam de la Halle, em que, num mosaico típico da Baixa Idade Média, o poeta usa para a primeira voz uma única palavra de uma missa latina, entoada em seu melisma tradicional, enquanto, na segunda e na terceira vozes, um eu-lírico masculino e um feminino se queixam, em ritmos desencontrados e numa mistura de versos franceses originais e emprestados de outros poemas, do seu aflitivo desencontro amoroso.

46 Trickster da mitologia dos povos acãs de Gana e Costa do Marfim, cujo nome significa aranha.

47 A palavra é usada pela própria poeta para descrever seu trabalho em depoimento dado no curso de literatura de mulheres no Brasil, na Faculdade da Cidade, em 6 de abril de 1983. 2016, p. 295.

48 Outro trecho de “contagem regressiva”. 2013, p. 271-272

49 MORICONI. 2016, p. 78.

50 BOSI. 2015, p. 13.

51 2013, p. 109.

52 Id. p. 106.






53 Trecho de “termos de comparação”, publicado, em 1976, na coletânea geracional 26 poetas hoje, que revelou Ana Cristina Cesar. 2021, p. 109.

54 Versos de “Let Down”, do álbum OK Computer, de 1997.

55 Numa carta a Armando Freitas Filho reproduzida em fac-símile na Poética, p. 437.

56 2015, p. 120.

57 A dança-fantasma foi um movimento político-religioso inaugurado em 1889 pelos Paiutes do Norte de Nevada, cujos praticantes propunham que sua correta execução traria de volta os espíritos dos mortos para que, reunidos aos vivos, combatessem a expansão territorial dos brancos e o consequente extermínio dos povos indígenas.

58 Hino 129 do décimo livro. 1981, p. 25.

59 Opto pelo olhar estetizante”, escreveu Ana Cristina Cesar no longo poema em prosa “Dia seguinte.” 2013, p.68.

60 É preciso imaginar Sísifo feliz”. 1942, p. 168.

61 Ana Cristina Cesar brinca com a alusão à ave e com o trocadilho em diversos momentos da sua poética, em especial em Luvas de Pelica.

62 Palavras da poeta em depoimento dado no curso de literatura de mulheres no Brasil, na Faculdade da Cidade, em 6 de abril de 1983. 2016, p. 297.

63 Id. p.312.