BEBETE BEZOS

(Mauricio Salles Vasconcelos)

Episódio 10

Em andamento de folhetim, segue no LÁPIS o Post Tela-Romance Bebete Bezos (Episódio 9).

O projeto se centra numa recriação, no feminino, de Beto Rockfeller (telenovela emblemática em seu experimentalismo), acrescida de motivos romanescos extraídos de autores como Alfred Döblin e Witold Gombrowicz. Em pauta, se encontra uma atualização de personagens do século XX instalados na época multimidiática gravitada em torno dos domínios de imagem/influência/informação tal como configura Jeff Bezos com seu diversificado, abrangente império empresarial (em correspondência neomilenar com o que Nelson Rockefeller exercia nos anos 1960 sobre o protagonista de Bráulio Pedroso).

 

Mauricio Salles Vasconcelos

Está surgindo uma tendência na Califórnia mesmo onde você estudou, Tata. (Quem? A interlocutora não está mais aqui. A resposta perfeita vem sempre depois quando o alguém do diálogo-desafio se ausenta. Tata, p. ex.)

 

– Depois de Frankfurt na Escola Palo Alto. Depois dos cortes na memória do que pode ser Técnica. Através de Kittler recepcionado por G. Winthrop-Young (Stanford University Press). Tarde demais em face do que se chama Mnemotécnica. (Apenas nesse instante, num outro lugar, a mais justa réplica se articula. Porque a pessoa em confronto não se encontra mais aqui?)

 

– Eu poderia ter lançado como adendo à nota muitos meses pensada por Professora Florestano, só depois de algum tempo tomando corpo de Referência em Rodapé. “As caminhadas de Janet Cardiff ao longo das galerias de arte, até o enlace das vias públicas (parques, pavimentos de concreto), passam por quadrantes não-mediados da Infonáutica.

Assim como as incursões pela Natureza na coleta (por Brígida Baltar) dos teatros-de-sombra contidos na tão-dita Realidade”

De acordo com o que pude anotar do frenesi elétrico de pensamento numa enviesada estenografia toda minha, Vange Florestano Biblioteca e seu livro tão intrépido quanto desfolhado em todas as direções

 

– No redemoinho causado pelo rompante de Tata Karmann, eu mesma ganhei impulso num repente a me conduzir enquanto figura em ação.

Eu, também, inclusa entre outros performativos participantes da Barra Mar Aberto Mall, abarco, atravesso –

Nada atribuída ao acaso, deixo de me reportar, contudo, a um marco estanque, à simples maré do momento oportuno para o lance –

O lote de um concentrado negócio, diabolô mental/meta duma única vida. Nome: Paródia: Bebete B (de Bezos)

  

                   @@@@@@@@

 

  

Acabei como personagem chapado, irremediavelmente definido? Logo depois da declaração em tom de blague no interior da espiral argumentativa provocada pela filha mais nova de Mazé/Odila –

Sou mesmo conhecida como Bebete Bezos?

 

Pois não foi assim que Tata passou a se referir a mim, na noite de estreia de Os Catadores de Espinhos? Por vezes, captei risos dos presentes, pregados na minha cara. Bebete Bezos!

 

Intrigante, porém, notar que quanto mais alguns me olhavam e comentavam, ante a tentativa de personificação de um avatar previsível, no comando portentoso de negócios on-line, eu podia ganhar a contar da noite recém-aberta uma desenvolta passagem por cabines de artes cênico-visuais. Sob o andamento de uma surpreendente fusão de planos, saídos todos de uma vivência verídica.

Ao ponto de soar raptada, extraída de várias pilhagens, uma Bebete sempre posta, num mesmo movimento, em relevo e experiência de sobrevivente no correr de um só desfile.

Bem aqui, logo mais adiante: onde as balizas são muitas, mas a um só tempo cerram portais na chamada Vida Real –

Quando as máquinas de acesso à distância são estocadas e, de certo modo, param. Revelam-se absolutamente adversas ao centramento de nenhum ninguém, nada mais sendo que receptáculos. Reservatórios, em tese, de um potencial infindavelmente ativado, conjuntamente cifrado mausoléu de dados.

 

                                    @

 

 Inevitável foi me resumir assim. Bebete Bezos passa a existir através de minhas concepções de cena e convivência entre muitos.

O aviso está sendo dado para as experimentações na Cabine 2. Anésia-Edwin confere o painel de luz. A dupla confirma o ingresso gradativo no que chamo de

Fábrica Vacante –  (Uma casa popular onde os moradores se reduzem a contar até 3, o básico mãe-pai-mais rebento/dentro de um ambiente ocupado por utensílios de trabalho, sem mais nada de íntimo)

 

Em primeiro plano, Boriska exibe seu dorso

 

Juntamente com tal exposição – pespontos nervosos ossos extensivos às veias/inhas-de-vida lidas por trás, reforçadas com o talhe de um desenho tão minucioso quanto tocado por vertigens de ramagens, radículas, fibras nodosas que se entramam num corpo espantosamente uno – [1]

 

Ganha gradatura o Constelado ali inscrito

Sobre um humano incapaz da revelação do próprio rosto,

Invadido, infiltrado por um mapa à sua revelia

A indicar um possível local e, a um só tempo,

 

Palmilhamento de crescente desfiguração

 

Por força de tudo que está ao avesso

Abismo portátil trazido pelas costas, um cerzido fatal tanto

Quanto uma desconcertante Costela (em Anatomia e Anagrama Dum outro ser   em público)

 

Em voltas sobre a mesma imagem, um decifrar

De coisas acrescidas a um nome único para uma

Correspondente Criatura –

                                         Um elo se cria entre Dorso Exposto (a mãe da casa é quem o descortina) e sua localização no interior de um ambiente devassado, dado logo à frente:

 

         Fábrica Vacante

 

Onde sujeitos, sumárias palavras-de-

Ordem substituem a espiral de um

A um ao seu coletivo, coleta

Retorcida, redobrada sobre o que está aí à

Mão, mas não se toca

 

   Dorso: Constelação do que cada criatura carrega e não se dá conta   (Corpo-em-cicatriz de trabalho sem trégua sob céu vago)


[1] Desde aí – no interior de um Mall da Barra Rio de Janeiro, embutida em cabines-shows-sites não específicos –, Boriska teve seu corpo iconizado pelo dado dorsal (imagem colada à sua lida em galerias e agrupamentos de Arte).

 Descoberta difundida para cada corpo:

Um retorcimento no interior (cabine) ou seja

 

Casca, carcaça e carga de todo dorso

     

Humano é o que não pode ver a si mesmo,

 Do mesmo modo a razão-deus ou a permanência da miséria (mistério)

Tal é e assim rola o humano de todos os sexos

Feito/Refeito/Efeito

      Por espelhamento anverso rebatido no sempre

Alterno giro ao inverso, próximo rosto

  

               @@

 

Loucura, dizer, mas vem de cada criatura aqui reunida: Todos querem ver quem (é)

Bebete Bezos (eis)

DE vez em vez, Bezos

Ora Bebete Bartolomeu (ex)

 

             – Porque se comenta na audiência o dado de q vem dela a cena em apresentação precisamente agora

 

Entre usina ubíqua e universo diluído cinza recôndito doméstico

   O CONSTELADO feito de um só corpo /A trindade continua a existir desde um remoto tempo, passa fome quantomais trabalha, incapaz de ver o carregamento, o peso atrás de si  tudo o que produz/

FÁBRICA VACANTE /o q se sobrecarrega no fardo e na fábula interior à Vida Material não preenche um só espaço – origem possível ou ordenação determinada/

 

        Paralelamente ao performativo (prefab espetáculo), um murmúrio cresce e aponta ora com dedos outras vezes vem num jato de muitos olhos no calor da plateia

 

        BEBETE BEZOS

 

 

               @@@

 

Bebete Bezos ali pontifica. Soa enquanto Codinome

   (Do que se contempla – Living Pictures at an Exhibition)

 

Uma mediação do desenrolar entre cabines/cubos

D’Arte dentro: círculos/circuitos

 

Do Visual – Segundo a razão mínima do objeto-arte, o tornar-se acervo, se dá (aquela, garota, B.B) à medida de seu giro

Engate no irrepetível instante

 

Cabine 2

         (Os cariocas, galeria e galera, começam a comentar sobre a visível autoria Bebete Bezos)

          “Aquilo”, aquela ali, passível de se apequenar por força da segunda mão

          Sobrenome patentemente expropriado ganha impulso pelo que interioriza, mistura e dissipa um senso findo de assinatura.

         Está ao alcance da vista, sem escape da feira em que ela atrita o fórum íntimo e a festa inacabada do escancaramento público

 

                    @@@@ 

 

Depois da Constelação de sinais diversos impressos no Dorso – Boriska é engolfada por um blecaute –

 

A voz de Cid (mesmo sem os auspícios do toque rapeado/ reconhecido pelas periferias paulistas de OS CRIMES DA CIDADE) vem modulada por outra espécie de música

 

Transporta o testemunho do terror nas quebradas, quebrângulos dos bairros-vielas-favelas horizontais descalçadas em SP. Através de um ritmo alternado por leitura de um texto e melodia (microfonia combinada com inserts clássicos-sinfônicos)

Para ecoar na Barra do Rio 

 

AS MÁQUINAS NÃO PARAM –

  Tente ver o DORSO-CONSTELADO (o que é só seu, por trás, inacessível, entretanto) Tente se ver no próximo outro inevitável

  Manufatura por todos os lados (A pele se costura no tempo,

    Um riscado intempestivo, cortes e cumes sobre o que há de mais intimista)

 

  Detrás para frente – Veia e viela contrárias

  Ao verso que sopro agora – Contra o poderio

De um rosto – Há uma cicatriz no meio do todo-humano/

     Dali tudo é imaginado (do retalho, do que resta) e também faz Repasse do que há de mais pleno      sobre um fio tênue, torto, de máquina disparada

 

                                      Interveção microfônica  Stockhausen/estoque de electros motivs – Cauê e Boriska abrem uma toalha plástica de mesa onde vão colocando nos quadrados coloridos, contidos na estamparia da peça, as ferramentas trazidas pelo pater familias (Cid). Recém-chegado do trabalho, a carregar no dorso um saco de estopa com seu material de trabalho, o homem começa a testemunhar sua experiência naquele dia preciso. Seus familiares o recepcionam, retirando do saco as ferramentas (pequenos acessórios laborais, pedaços de ferro, alavancas, suplementos móveis, manivelas retorcidas) que substituirão os possíveis alimentos sobre a mesa.

 

                                      “””””””””””

 

 Encruzilhada – Não há hora para deter a máquina

 Contida em cada corpo      Contra o poderio de um rosto

 Nome imune  (Fantasia de sujeitos enredados nos próprios

 Números/Um de um Montante Fatal) – Ninguém fica sem prestar

 Conta porque está aqui aparentemente à toa, sem dar prova

 !Todos Trabalham mesmo na iminente condição de Desocupados

Da razão desconhecida de ter sido parido 1 A 1 por pura vontade

Perdida – Dispersa Encruzilhada

                                     /Flagelo nas costas, “descarrego” (Substantivo contra verbo)

         CID canta enquanto atua, sem perda de um desmedido ritmo

 

Por ordem de uma anterior humanidade, olhos

Exorbitados da silhueta mais estrita        não querem crer no avesso

Espelhamento da vida uma, una

 

(Sem nunca escapar de ser

Insabida, incontrolável

 

Encruzilhada) Talho pelas costas

 

 

                                                ‘’’’

 

Ninguém se vê não não jamais é visto inteiramente    Apenas dá de continuar um Dom/Deus de Dizer Eus Mesmos e a Produção de Recursos retroativos

 

À cata de um fio  o menor  (quase invisível, aquele ali exatamente próprio)      

 

Em sequência –

 

(É preciso remontar teatro, sabendo-se ou não declamar para, então, Ser) –

Na bolsa de Bebete está o conjunto de páginas onde se lê tal trecho (Apud Florestano, Mestra Performativa aos pedaços de texto escrito rumo ao

livro-da-vida)

 

Manequim e Motor Involuntário

 

(Ninguém ultrapassa o campo de cabeça-cara-olho esbugalhado

Sobre o que se julga si-mesmo)

 

Manequim e Motor Involuntário

 

      O pater-familias tomba no chão de cimento. Sua mulher e o filho se aproximam dele, na tentativa de escuta do que julgam ser As Últimas Palavras (ao som electro-stockhausen é acrescido um mix de marcha fúnebre-escola-de-samba e rap paulistano)

 


                                 ////////////////

 

Todos aqui presentes nasceram no meio de uma história pregressa

Jogada para frente para trás – Assim vão morrendo entre famílias,

Fabricações de trabalhos, Economia Perversa, fins-de-fila

O número de um Eu Extinto

Toda vez que rolam os choques concretos e intocáveis

Fardo demasiado sobre o

Dorso

Céu empesteado por fuzilamentos

 

Fábrica Vazia – Cidade do Rio de Janeiro tomada por crimes-panoramas

Quando se aliena da força múltipla, misto orgânico/mecânico

De um poder próprio que não vem da Natureza

 

Contra o Cartão-Postal surge ao rés meio-fio dos brutais milicianos

Montados em lixo lavado por imperativos dinheiros

A Capital-Favela luta contra o Rio finito, onde não mais

 

      Introduz-se na trilha sonora um composto de tiroteios e frases-padrão retiradas de discursos televisivos, emissões internáuticas e capturas de rua do repertório referente ao ideário miliciano, seja em gravações de eventos governamentais seja em depoimentos criminais.

 

Não mais Não mais a canção céu azul toca o mar em ressaca

Não mais canção, coral esvaído: caos colossal gangrena a onda

Em vez bronze dorso solar, não há constelado cosmos contemplado

Chão de estrelas ganhou o firmamento, devoluto horizonte poluído

Cerca prolíferos habitantes da Cidade Câncer Crime

Impossível fluir o cartão postagem de uma violada História-

Da-Natureza (Nenhum Outro Endereço)

 

      O pai da pequena família é transportado pela mulher e pelo filho dentro do saco de estopa e, enfim, posto sobre a toalha-de-mesa

 

 

  

                              ;;;;;;;;;;;;;;

  

Ninguém consegue entrar no mesmo Rio, barra de barro vermelho

Vertida sobre o mais simples respiro – Matar fez-se lei escorreita  –

Nada se renova, desde criança a morte assinala as águas

De um veneno torrente – Fábrica, fato fátuo, esvazia Corpos Potentes

 

Dorso-Cicatriz, mapa minado a cada volta da canção

Volta a canção solar surgida no ar (expira

Estribilho)

  

Sobre a voz de Cid (rap por cima de texto alheio) se ergue, no interior da plateia (maciço de cabeças agrupadas, indistinguíveis), o berro de um homem metido em terno-gravata, aparentemente um comprador de obras de Galeria.

Homens iguais a ele entram repentinamente no recinto. Vestem-se do mesmo modo que aquele berrador frenético a empunhar um fuzil reluzente, arrasador só de se-ver lançado ao alto. Dentro de um espaço a princípio contrário a qualquer tipo de demonstração de ódio e violentação súbita da fruição artístico-cultural.

Cid é retirado do palco (Cabine Fábrica Vacante) pelo grupo formado por 4 homens ao todo (excetuando-se o Berrador).

 

                      A@@A   

  

Mãe e filho não param de combinar os diferentes instrumentos de trabalho (pequenos acessórios, pedaços de ferro, alavancas...)

DESTINADOS PARA BORISKA, os papéis de Virgem/Dominatrix da Morte do Desejo ante o Filho Nascido (Cabine Um) e aquele de Recoletora do fim-da-família por injunção de Economia (Cabine 2) sofrem o ataque miliciano montado em assistência interativa de Galeria Performativa –

 

Na 3ª cabine, não chance de Boriska tomar a figura da mulher que não para de se vestir quanto mais se vê despida por seus Correlatos Gozadores (NãoCelibatários) de um Pacto Agregador Ao Infinito

(A passagem para a Sessão BORISKA E BEBETE REENCENAM DUCHAMP é bruscamente interrompida)

  

=====                                                                   ===

 

Há horas não há notícia alguma sobre o paradeiro de Cid –

 

As notícias correm por várias vias, acompanhadas por fotos frontais dos homens furiosos que demoveram o Cantor/Atuante no seu auge de emissário da população em recuo após o trabalho para a morte (Real Economia e Finitude – bem soube fazer-se valer de legendas a presença de Bebete Bezos como curadora e criadora das cenas).

 

Corria mesmo um podium de apostas sobre a real natureza daquela apresentação –

Pois entre real e apresentação, os polos se baralhavam. Principalmente, da parte de quem tem mirada fixa sobre Odila Karmann, a comandante da Revista em matéria impressa e seus correlatos vazados por todos os lados em que imagem e escândalo possam se entretecer. Este é o caso de Rodolpho, ligado à distância na comemoração em que sua mulher se encontra. Totalmente interessado em esquadrinhar os rumos da participação de Anésia numa empresa, à qual ele não cessa de se referir como Monopólio Complô.

Não, à toa foi ele um dos primeiros a ver a notícia nos primeiros minutos do dia seguinte no Jornal da Madrugada –

 

Cid está algemado, apenas portando uma sunga, destituído de todos os adereços de rapper divulgado de SP HiperUrbe para as ondas viciosas do Rio –

Ostenta, em uma fotografia estourada pelo sol abrasivo, doentio, apontado para o falso resto de noite, um cartaz preso ao seu pescoço –

NÃO PASSA DE GANGSTA – PARASITA DOS BAIRROS- FAVELAS

INTROMETIDO NA BARRA DO RIO, INTEGRANTE

DOS CRIMES DA SUA MAIS NOVA CIDADE