PASSEATAS/PLANETAS

 DO PRESENTE

(Geórgia Gama)

De um caderno de capa preta antigo surgiu a sequência de poemas que agora se publicam neste Site. Um conjunto escrito de modo elétrico após participação em passeatas contra o não-governo, no ano de 2019. Agora eu reelaboro esses textos inéditos. Sou pedagoga, formada pela UERJ. Vivo no Rio de Janeiro do perigo e dos panoramas a céu aberto. Ali nasci e, também, tremo pelo terror aqui implantado em meio à decantada Natureza.

1

 

      Nem vem, o vento

      Não é canção de rádio (nunca)

      Portátil que seja, invasivo pool mercadológico

      Senão, de cor

                         (Estoque logo extinto)

 

      Vazios – aí (urgente anti-taoísmo

 

      Meditar sob o embalo mais ruidoso)

      Clandestina imersão em tais arabescos aéreos

      Feitos giletes sobre cortiças

      Corticóides délicoplásticos versus muralhas psis

 

      Bem agora – Vacantes

      Vastidões em urgência –

      Vivo vetor (ao vento)


2

 

      Cabelos crescem (essencialmente

      Quando percebidos na multidão)  Especiais

      Passeatas   espaciais não-concordatas

      Por um reivindicado dia mal nascido

      Logo posto mais atrás (cabelos se insurgem,

 

      Involuntários passos,

      Volitivos atos abertos

      Ao impossível rompimento das menores passagens

      Já trançadas              há muito tempo)

 

      Além do que sou – premente pisar a rua ABAIXO

      A interdição das ruas enquanto velozes carros cada vez mais

      Incrustadas polimilícias

 

      Bem aqui       por força (extremada

      Plataforma)

      Dos cabelos ao vento


   3


    Sobre a grama quase em falso do Campo de Santana, um cara entranhou

Dedo e tudo no cerne de minha terceira parte do corpo, quase noite, A mulher

Hiperpintada também estava de olho, uma fantasia-cigana a rondar a praça Apodrecida, reservada a aposentados/solitários/desocupados/desviantes. Todos suados por uma tarde inteira aos Gritos pelo básico, pelo hino Imanente  Imediatamente, houve o gozo. Foi consentido. A mulher feita a Batom berrante e bisturi tematológico, estava dentro    voyeuse Ou Vidente Do gozo, da urgência em pauta: Universo inteiro contemplado Quando se Ama em espaço público. Entre as cotias do Campo, bem à volta  Relógio Central do Brasil, povoações Esparsas sem mais notícia do que Embalo agora Que nem aventura a cruzar O combate pelo menor movimento das coisas Como se fosse, melhor: era Uma Vez, por uma só vez, um conto Completo Infinito a rolar, nascido a Favor de todos, os Muitos Desconhecidos, sempre Outros, assim sejam   encapsulam  encapelam eu (uma Hipótese)

Bem rente (aos sussurros), entre Pavimentos, pedregulhos, bocas trocadas, a  

Relva (solo concreto tocado por voltagens de vozes,

Cabelos)

Ao vento


4

 

      “A pauta não fecha. Porque não cessa. Nem vale falar em pauta. E ponto!”

 

      “Nem por isso precisa-se de divisórias. Não dê um ponto. Evite qualquer agenda arquivo por obra do tema – Planet Waves (reserva sumamente ecológica ou antroposófica), o protesto palavroso o segmento para a seção de Identidades”

 

      “Passeatas também são feitas em espaços fechados”

 

      “Em especial, aqueles confinados”.

 

      Huis-Clos sartre surtado em virose contraface da voragem virtual/ faz contrapolo a A CÉU ABERTO, do gaúcho fatalmente falecido Noll depois de horas morto dentro de casa; mais uma vez solitário a céu aberto. Penso que, então sou logo alterada:

 

      “Quanto mais encerrados em causas logo fazemos mescla com o que há-de-vir na fala solta de vozes propagadas pelas ruas. Venham donde desde”.

 

      “Justamente, quando estas – vias públicas – são as mais vigiadas pelos próprios passantes, cheios de razão em lugar de seus cabelos ao vento (como nunca antes, os cabelos estão fora-de-si-carapaça-centro cioso reflexivo)

 

Como nunca antes, levados pelo vento em seus cabelos. Como se não tivessem nascido aqueles portadores de fiações, quando apartados do seu presente sem doador, o tempo: a ser relançado    dado dorso infindo”

 

“Ninguém permanece num único lugar em vida. Mesmo os desfilantes em passeatas podem se tornar ponto fixo

Parada Michê, Permitido Calendário, Prestação-de-Serviço”

 

“A pauta não cessa. Cuide bem de seus cabelos crescidos para a visão alheia.

 

“(onde quer que esteja, vento voo ou seja você, irredutível um/ resumido por alternâncias dos planetas presentes     pela via mais pedestre)

 

Não deixe o vento cessar (o vazio quer dizer rumor vário

 

Não é um conselho, nem palavra final, autoral, dentro de um verso, vórtice sequer rumo a um site letra sobre letra, dial dedo a dedo até ser/

Coincidir com alguém ao léu)

 

ASPAS