BEBETE BEZOS

(Mauricio Salles Vasconcelos)

Episódio 11

Em andamento de folhetim, segue no LÁPIS o Post Tela-Romance Bebete Bezos (Episódio 11).

O projeto se centra numa recriação, no feminino, de Beto Rockfeller (telenovela emblemática em seu experimentalismo), acrescida de motivos romanescos extraídos de autores como Alfred Döblin e Witold Gombrowicz. Em pauta, se encontra uma atualização de personagens do século XX instalados na época multimidiática gravitada em torno dos domínios de imagem/influência/informação tal como configura Jeff Bezos com seu diversificado, abrangente império empresarial (em correspondência neomilenar com o que Nelson Rockefeller exercia nos anos 1960 sobre o protagonista de Bráulio Pedroso).

 

                           Mauricio Salles Vasconcelos


      (Legenda, Corrente, Chicote)

 

Mazé se meteu em seu carro atrás dos raptores de Cid. Tudo em vão. Há uma espécie de desembocadouro cavernoso no rolar da falseada linha-reta da Avenida que faz ligação da Barra com o resto RJ.

Cid foi parar em Barros Filho (depois da Barra da Tijuca, bairro-condomínio), justamente uma localidade extensiva ao esgoto a céu aberto da Av. Br –

Um conglomerado de lascas de casa, buracos-de-morar, entre morros e becos sanguinolentos mistos de matanças, pântanos, desaguadores industriais –

 

Quem conduziu o poeta, pertencente agora a outra periferia pelo exemplo extremado da provocação nos limites de uma cena, foi sua antiga amiga, agora parceira de aprontos em Galerias de Arte –

Rumo ao corte mais talhado: do limite da palavra e do canto numa direção brutal da realidade, ato em toda crueza (Está sendo feita a pergunta, zoa no ar, o que aconteceu, de vera, na “lata”?

 

De vera, no ato?)

 

Não para de rolar a indagação –

Para os audientes, os seguidores distantes de Maga Mega, os loucos por notícias estrondosas, sejam profissionais da informação quando não solitários catadores de entretenimentos mesmo pela vertente do “mico” alheio, da mímese da vida no mais concreto – Tudo se deve a ela?

 

(A tal, B de Bezos? Para além do nome próprio Bebete)

 

 

 

                  **************

 

 

– Odila Karmann estremece com tal possibilidade? Ela mesmo tem tal questão avoada por cima do que se reage em cadeia, então, pensa como proteger Cid após sua captura

 

– Certamente, Rodolpho tem a empresária como alvo de tudo a que se assistiu na Cubo Convergência, no rolar de cenas entre-cabines até sua explosão nas trilhas marginais da Cidade-Rio. Até porque sua mulher lá estava a fazer companhia à figura feminina central da Empresa. (Ele odeia ficar sozinho em casa sem ter com quem reproduzir as trilhas feitas por jornais de ontem e de hoje depois de relidos)

 

– De um modo ou outro, Bebete está na mira. O que se mostra, do modo que for, para Odila K, como alvo, tendo a concepção da performance surgido da mais nova empregada do Grupo.

Não ao acaso, B. passará a integrar o primeiro evento internacional da Revista na sua reportagem e documentário de corpo presente na Romênia, um referencial para a Europa ucraniana, ameaçada em suas bases. A partir de um pequeno território tornado centro do abalo de todo um continente.

Depois da explosão Barra-Barros Filho, Maga Mega explora a violência política-policial onde for, através dos minúsculos acontecimentos: das galerias da arte ao ar livre.

 

 

                                   $$$$$$$$$$$$$$$$

 

 

Logo ali, Romênia onde O. Karmann já havia iniciado contatos no setor Moda/Comportamento/Cultura do Instante. Onde os ucranianos em fuga foram encontrar refúgio (desde o horror de Putin, redivivo czar regressivo do soviet-liberalismo, em grotesca composição retropolítica) numa retirada de sobrevivência e sustentação para um abrigo que não lhes diz apenas respeito. Depois de um primeiro sinal destruidor em andamento devastador para toda a cidadania do Mundo Velho. Esse passível de novo rosto por conta da Europa Menor, por isso mesmo cativante new face de investigação, investida jornalística, com os suplementos de cenário, arte e ingresso gradativo na combinação Documento/Atos ao Vivo (segmento robustecido com a entrada de Bebete Bezos no interior de uma publicação, de uma família).

 

                          /////////////////////////////

 

A zoeira causada na Barra estendida a Barros Filho favoreceu o estremecimento das franjas mais duramente realistas e os fantasmas culturais desfilados pelos palcos da Designer de Eventos –

Bebete Bezos –

Sob a dúvida pulsante até mesmo para ela (B.B), se de fato está em suas mãos o desatrelamento de tais instâncias alucinadas por um real que percute em cenas e retorna ao corpo da multidão. O que se dá de um modo mais feroz do que toda forma de arte, do que toda concepção de vida –

 

O poder invasivo na Arte (por parte daqueles que assistiam aos Catadores de Espinhos) fica patente com a minúcia do diagrama de pontos feitos no dorso de Cid Serrão, o Cantor dos Pedaços do Lugar Citadino –

 

Uma réplica do que pôde ser avistado nas costas de Mãe Karmann por Bebete (depois refeita na pele dorsal de Boriska) – Sim, quando do passeio pela “minha Terra”, assim Brigite a convocou para uma ida íntima ao seu recanto. Uma viagem pela Mata Atlântica de um Vale perdido de vista, acrescida de confissões desencontradas de época e local – Até o ponto em que, assegurada por sua mais nova confidente, Seniora K. mostrou o grande látego trazido ao longo das costas debaixo de um sol úmido de casa solitária, em constante caos de coisas alheias.

 

Cid ostenta, em sua quase nudez, a tapeçaria de cicatrizes deixada por seus raptores. Além das correntes que traz no pescoço, nos pés e também na altura do umbigo delineado pela sunga preta puída, o chicote de Brigite/Brites se encontra, à maneira de uma ramada de corte e sangue, enlaçado à sua cintura encordoada por orifícios de ferro –

 

 

                =====================

 

 

Em torno de Cid –

O choque está na violentação feita pelos visitantes/raptores até mesmo no interior de um espaço avesso por inteiro aos seus trânsitos, aos seus nichos usuais de gosto e infiltração.

Não à toa, disfarçados de connaisseurs de Galeria, os exibidores de potência maschia, declaradamente compactuados com os ideologemas das milícias, mostraram-se capazes de penetrar nos recônditos de arte-cultura. A ponto de ocorrer a entrada daqueles falsos espectadores no camarim dos atuantes (um improvisado salão reservado a molduras e maquetes) no momento em que Boriska estava em preparo para sua 3ª Cena/Cabine –

Posicionada ao lado de Bebete e Brigite, que a orientavam e também conduziam os retoques para sua personificação de Mulher Nua Vestida por seus Contempladores de todos os sexos e situações de afeto ou contrato, Boriska teve uma de suas vestimentas rasgada imediatamente.

Na tentativa de defender algumas das peças que ela mesma havia costurado na solidão de seu sítio devotado a animais e à classificação exaustiva das espécies vegetais ali conservadas, Brigite sofreu um golpe em seus seios (tão volumosos quanto os da nora Odila). O possível contra-ataque com o chicote resultou na retirada de seu suporte algo maníaco, seu resíduo de lutas perdidas já no tempo e nos corpos de quem as suportou (mulheres guerreadas entre si na disputa de um naco de terra produtiva, pertencente aos códigos protetores da Mata Atlântica).

 

Corrente e Chicote –

Não apenas vergastado e ferido por ferro entrelaçado com coronhadas e facas afiadas para cicatrizes, Cid exibe cartaz à frente do corpo e por trás uma refiguração do dorso constelado em carne viva talhada feito inscrição duradoura

 

                  ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

 

 

 

 

 

 

Dorso

Desenho

 

A dúvida não para de retinir aos olhos de quem o viu dentro e fora da galeria Cubo Convergência

Um giro sobre a concepção cênica de Bebete se põe em movimento, tendo-se em foco o interesse dela em promover uma passagem do Ato para o lado de fora do Espaço de Cultural, chegando a cruzar o rio nas franjas mais impensáveis do elo entre Barra da Tijuca/Barros Filho. Ao ponto do sacrifício vivido por Cid, não disfarçado por ele mesmo sob o influxo de uma body-art passível de ser exaltada pelos convivas do Acontecimento.

Exatamente, porque o Poeta/Agente de Cena chega a derramar lágrimas no instante-impacto da descoberta de seu paradeiro, logo engatado com uma bateria de entrevistas.

 

Tudo se mostra ainda mais intrigante acerca dos limites de uma crueldade, tingida com os tons berrantes da Arte, tal como se descortina da parte traseira do corpo de Cid –

O dorso constelado obtém uma versão crua, porém esmerada nos detalhes da recriação do que se viu no dia anterior (enquanto decorreu a Cabine 2): uma revivência dentro da cápsula livre e metamórfica do “fazer artístico”. Tal como depreendeu e expôs abertamente Brigite Karmann, a contar da ferida traçada ao modo de um mapa em seu dorso (com seu total consentimento a Bebete para incluir um trecho e uma clamorosa imagem de seu itinerário dentro-fora da Família a padecer da violência local de vizinhas, também como ela proprietárias de terrenos em disputa, à volta do entorno-timbre Mata Atlântica)

 

Cid – em choque, recuo e recolha de novos dados da Periferia, com a irrefutável convocação a Bebete para acompanhá-lo nesse retorno ao ponto inicial (Deseja imensamente “dar um tempo” em Crucilândia, exigindo a companhia daquela que o considera “primeiro namorado”)

 

/A arte é exercida no cerco de uma patente,

                 presente inversão da realidade renegociável/

 

 

                        00000000000000

 

 

/A arte é exercida no cerco de uma patente,

                 presente inversão da realidade. Mesmo quando parece

Tudo fazer retroagir, violar, distorcer (em sua base, por ferro, chicote/ricochete

Algema, legenda agigantada)

 

Realidade-Patente/

Essa bem aí, orquestrada por multidões mundiais impensáveis, jamais imaginadas a tal ponto de desfiguração: integrantes, impositivas

Do instante

Instalado no fulgor imaterial de uma Performance/

 

Bebete faz pauta. Vai ao Livro-Ata (iniciado por Vange Florestano, conduzido agora com elétrica inserção de notas surgidas de outros tempos/locais, dessa vez em diálogo intensivo com Mme Karmann, a regente Maga Mega)

 

regressão da realidade  multidões mundiais a tal ponto impositivas          

                        enquanto instalado fulgor de uma Performance

 

Em tal compasso, não necessariamente hierarquizado por premissas de fim-início-finalidade, fica mais e mais compreendida para Odila Karmann a etapa que se segue à Barra, a Barros Filho, rumo a Bucareste


Cicatriz em forma de ânus cinzeiro côncavo receptáculo de sangue engatilha um útero talvez lacrimal

Nas costas de Cid Serrão, O Cantor, o retalhamento se faz acompanhar de um rabisco feito com sangue (Aquele que porta o sinal cravado na própria pele não consegue ler o que está dito, totalmente revirado à sua revelia)

Retiro, Recuo –

 

Recolhimento/Recolha

 

Não somente Cid, o extremado (mesmo a doloroso contragosto), o épico. Também Bebete Bezos faz sua lista de processos e procedimentos retirados do que é tão intrépido quanto tortuoso. Revisita Jeff B., esse tomado de segunda-mão, integralmente seu alusivo informante e produtor de senhas-guia.

 

Tão logo chega no ponto-de-comércio em Crucilândia, na companhia do inseparável amigo – quando viviam naquelas bandas e também agora, depois de tudo, de cortes, desvios e forçoso reencontro com o mesmo Dentro/Desde Quando –

 

Bem de cara no Centro – lugar de origem –, parece loucura mas é uma voz muito íntima que se escancara até esgarçar no ar as sílabas e as tonalidades que não são mais seu interior reconhecimento e chamamento primeiro

 

Dona Franca – sua mãe – é quem grita. Um tanto de desespero e comércio no ponto central de Crucilândia.

 

Cid confirma. Deixa claro, mais uma vez para Bebete Bartolomeu, que não era exagero dizer do dizimado estado em que ficou parte de sua família. Especialmente, a mãe. O restante se vira com sobras de trabalho. Respiros quase impossíveis nos lugares viabilizados para pouso (mais do que moradia).

 

Mais do que antes, se faz urgente atualizar o entendimento do que faz o fanatismo dos mais pobres cruzar com MacroEconomia e Mundo Mundializador acessado por tecnologia/operações instantâneas de toda Ordem – Importante demais, a presença deles 2 na Periferia (Crucilândia, é o nome, não?)

Odila redige as novas pautas enquanto conversa com Boriska, também lançando mensagens nervosas ao rumar das mãos sobre folhas e fotos pixels (para quem for, seus assistantes sempre enlaçados, Anésia/Edwin, e também para o marido mais o filho, consultores das edições da Revista)

De repente, Dona Franca é avistada (na entrada de Crucilândia, ainda, na muvuca dos pedintes e vendedores, compradores em especulação do máximo do mínimo). Ela vende coisas da casa juntamente com outras em profusão de procedências e valores de troca. Ao mesmo tempo que comercializa, grita.

São coisas gritadas para lá do que se vê e é posto à venda. Um tanto de histórias e trechos verbalizados de coisas a serem transmitidas por força de uma última moral (da história, de um curso drenado a ser expelido, da vida, de vício pela vida).