PARA VIVER O ROMANCE
[Mauricio Salles Vasconcelos]
[Mauricio Salles Vasconcelos]
Romance A Caminho – Narrativa Em Tempo Presente
Mauricio Salles Vasconcelos e Felipe Souza (org.) –
Coletânea de ensaios e narrativas, com a participação dos organizadores e de Ana Pavla, Anderson Lucarezi, Carolina Zuppo Abed, Ellen Amaral, Lucas Miyazaki, Michel Mingote, Priscila Gontijo e Tiago Cfer
São Paulo: Ar Livre, 2025
O Seminário transmitido pelo canal Youtube da FFLCH/USP (de 18 a 21 de julho de 2022), com o título “Romance A Caminho – Mutações de um gênero literário no presente”, propiciou a reunião de ensaios e trechos de narrativas contidos neste livro. Incontáveis vertentes de escrita conceituadas e elaboradas por pesquisadores de Literatura Comparada também romancistas, alguns com projetos iniciais, outros com obras já publicadas, trazem à cena de hoje um universo sempre posto em debate, quando não em refutação, no entanto, presentificado com enorme produção em todo mundo. A despeito do regime dominante audiovisual a impor segmentos de fabulação aos olhos fixados em serialidades, compactações cinemáticas, streamings concebidos a partir de entrechos literários. Em paralelo aos formatos do livro repaginado, ressignificado em embalagens dinamizadas por telas que se bifurcam dentro de páginas em que o dado de ler potencia-se sem apagamento ante os valores do mondo techno.
O Romance ganha aqui títulos vários e angulações provocadoras. Em sintonia-transistor com Blanchot, o pensador que trouxe à tona no final dos anos 1950 a concepção de narrativa em detrimento do romanesco. Labirintos e trilhas sucessivas de fábulas em mescla com documentalidades as mais diferenciadas, em meio a capturas bioescriturais e descaminhos criadores desde a modernidade do Século XX.
O Devir pode se entranhar com a esfera do romance, de modo a proporcionar novos cortes sobre pensar o tempo e dispô-lo sob a exegese e a esfoliação dos limites antropomórficos. Cinematografias do escrito-performance. Teatralidades do romancear de poetas rumo à vitalização de procedimentos que não cabem nos padrões de trama e das delimitações líricas. Na sala de ensaio, um gênero antigo, em derivações incessantes, provoca o desgaste da TV para anunciar a Nova Novela.
Dublês, spams, redesenham os quadrantes do que se lê, vê-se e passa a seguir andamentos ramificados, rizomatizados com uma literatura portátil, possante. Minimizações e maximizações nada convencionadas podem apontar outras tradições para a vida enquanto romance, para a história de uma época, cheia de impasses como a nossa, enquanto investigação ficcionalizada.
O romance é o que está a caminho. Seja no horizonte vivencial, seja na mescla de gêneros, artes e áreas do conhecimento, por força de sua espacialidade, propensa a dilatações e contrações inauditas. Libera sucessões impensadas, reiventa destinações para o que ainda não se sabe de personae, lugares e da deriva das épocas, incidida justo agora.