CONFINS (Extrato)

Dex Baltar

Finaliza o livro Confins. Cursou Oficinas dos Laboratórios de Criação (coordenação Mauricio S.V). Estuda o universo filosófico de Cioran. Participou do filme coletivo Stela, Estela (direção de Strobo, 2017) como roteirista e ator.


Multitude é um quesito, vaza a hora do dia, a ordem do histórico, não tem alinhamento, exatamente por isto, o istmo da questão desponta – (as margens logo se introjetam em qualquer princípio pronta-resposta; não estando mais no mesmo lugar)

O chamado (em falso) quesito. Estão os formadores de grupo em uma diagonal típica de aeroporto em saturação de passos terrestres – ex-fábrica de biscoitos em roda, uma bola para quem souber me dizer o quiz o quark do segundo que explode –


A Coroa que entrega as passagens fornece prospectos para o Evento – Na outra ponta do País, já se tornando outra pátria pan bandeirola a tiroteio por um tasco de terra – Porém É Lá


A Funcionária aponta (orla no horizonte tremeluzido com a radiação mostarda caída sobre nós, passageiros) “Agora toda vida se faz feito dínamo, mais que urgente é montar uma tese, ganhar subsídio e meter o pé no mundo. Teoria e bagagem básica. Uma revolta entre os dentes – Dinamite Dialética Dial Denúncia Disk Bolsa de Fomentos”

Enquanto tomamos posse da passagem. A Funcionária arruma sua coroa – penduricalho glitter de fios reais retirados de uma nudista morta no meio de um bang-bang bancário (tráfico de órgãos na sequência) – Dá de conversar sobre a Próxima Produção (sem que saia de seu assento giratório e aveludado, ostentando espaldar bem alto, maior que sua cabeça eletrificada por ideias vendáveis ao rolar das muitas horas asilares de aeropocket)

A Multitude vista dali pertence ao registro de um Site (entre Literatura e Política Clandestina das Revoltas Identidades) – A outra parte do aglomerado escreve sorrateiramente um fotorromance com as pessoas mesmas que estão aqui e passam (tão logo encaminhadas a um click enveredado em Trama Verídica Viral) –

Quanto ao grupo mais numeroso: compõe cena de uma Novela estreada madrugada adentro, impossível de acompanhar senão por borderliners viciados em tramas mais fortes que o sono implacável por vir – Mix de filmes maus com seriados d’arte selecionados a dedo (nenhum intérprete de Onirismo estará presente) –


O AeroPáramo já se mostra como o Evento escolhido por cada um difratado em mil multitudes –

Como se lia em mãe vitalícia (mesmo falecida) Clarice e no expatriado Gombrowicz sempre à mão, a viagem já começou quando se sai de seu próprio casulo (o lugar destinado começa a ser descortinado no simples ponto-de-partida)

A estranheza se alastra (quando miramos o lugar de lançamento para o qual voltaremos cheios de viagens longas logo findas) que nem Lodo Verde /a 1ª sci-fic vivida e vista por mim, pois bem ao lado do ingresso no Planeta lodoso e luminoso/sessão mirim/num só piscar de olhos, tive também meu primeiro cacho sexy, com a primeira pessoa provada nessa vida, um pagante de meia entrada logo envolvido com um só dedo em minha fundura de musgo e plâncton, como que recém-vinda ao mundo claroescuro, entre realidades inegáveis e corporações sem fim, mesmo em cada um o Sexo é Missão desprovida de pouso, a Ciência da Ficção se enreda com seu próprio ocaso/


Ocaso Opala – As teses se preparam. As multidões fecham as caras, misturadas a um catálogo de temas difíceis de definir (Pensar não ultrapassa verbalização de tópicos para si-mesmo, agenda sempre sempre alheia ou diário esvoaçado). Antes que o aerotransporte chegue até nós. O futuro fez um desenho aberrante a englobar todos sem perda de tempo. Avalanche poético-vespertina. Todos que adentraram o recinto passam a copiar coisas quando não se limitam à leitura, desinteressados da Voz

Humana,

da Vindoura Crise emitida por cada boca faminta de silêncio.


Recorro à pílula dos passageiros (ofertada já pelo aeromoço extraído de um comics pornô, interessado em deixar ver a medalhinha zen e o maço de tufos enraizados nos muques dilatadores de uniformes). A pessoa que se senta ao meu lado comenta algo que tenho no interior de meu texto para a Conferência a ser dada em Irimirã.

Assusta-me, sem sair do meu lado, mesmo quando chego à Hospedaria no meio do mato. Seu rosto refrata-me (rasgo de meu pretenso passaporte entre onírico e onipresente fardo-trabalho), porque sua questão é mais que quebra-cabeças quisto do Q-I InterHumano. “A senhora falará sobre a Ciência da Ficção enredada com seu próprio ocaso?”


“O real não passa de uma Ciência enredada no ato de contar uma fábula?”


Qualquer antecipação – de hora, de História – não se resolve no local mais deserto, devastado, mínimo palmo de gente e terra?”


“A Multidão justamente se encontra onde não há mais Ninguém?”


Data da publicação: 16/07/2022