BEBETE BEZOS

(Mauricio Salles Vasconcelos)

Episódio 2

BEBETE BEZOS

Em andamento de folhetim, segue no LÁPIS o Post Tela-Romance Bebete Bezos (Episódio 2).

O projeto se centra numa recriação, no feminino, de Beto Rockfeller (telenovela emblemática de Bráulio Pedroso), acrescida de motivos romanescos extraídos de autores como José Agrippino de Paula, Alfred Döblin, Robert Musil e Witold Gombrowicz. Em pauta, se encontra uma atualização de personagens do século XX instalados na época multimidiática gravitada em torno dos domínios de imagem/influência tal como configura Jeff Bezos (em correspondência neomilenar com o que Nelson Rockefeller exercia sobre o protagonista de Bráulio Pedroso, nos anos 1960, por força do poder econômico).

Mauricio Salles Vasconcelos

Em Nuvem, as ações da Companhia –

Nas Nuvens, o homem que tudo comercializa eletronicamente não fica sem manter um enrodilhado encontro com o que há-de mais invisível

Não por acaso, Jeff Bezos faz citações (juntamente com cotações à volta do que tem e desprende para incalculáveis populações.)

Por que está rolando tanto na cama? Percebi a hora que você chegou. Já é de manhã, meu bem – Vix pergunta, entabulando a conversa do dia. Ter uma companheira, assim, numa casa (o micro do micro ambiente) significa obter direção no microssegundo que nos falta. E resta.

O que está rolando tanto na cama? (Seria o caso de indagar sobre a garota em cima do estrado forrado de espuma onde cabe uma pessoa apenas).

Há um sentido de data no que vivem e fazem, na composição de um ap dividido igualmente. Quando não é Bebete a lembrar da lista de coisas a serem cumpridas imediatamente por elas (âmbito da moradia) e no horizonte-cidade enquanto cintilação incessada de “agitos”, vem pontual a companhia de anos a lhe fornecer trilhas a partir de uma recolha de fatos.

A partir de sua colaboração como free-lancer para uma coluna de streamings no jornal mais vendido no País, fica possível fortalecer um elo. Eis o que se firma entre as questões mais concretas sobre a continuidade delas duas num mesmo espaço e uma torrente de dados extraídos da enumeração das ocorrências do dia afora: para fora das exigências de varrição, lavagem, prestação de contas, enfim, da necessária ordem no que a cada instante sai do lugar e desequilibra as tarefas e as divisas de uma-e-outra. De modo que fiquem bem, ali onde residem, há sempre uma empreitada a se enfrentar. Coisas da casa/acontecimentos externos (numa abrangência aparentemente desnorteadora, a princípio fixada na simples referência a nomes, locais e objetos os mais diversos).

Vix sabe cuidar de coordenadas capazes de interferir nos rumos mais localizados na vida de Bebete como “vendedora de butique”. Até mesmo porque Bezos não significa um simples nome, não é meu bem (Vix acentua tal interpelação meio carinhosa, mas também distanciada ante um qualquer interlocutor impessoal, feito um refrão gozoso, glamuroso. Meu Bem pode soar como Meu Ônus à mais simples réplica).

Sim, estou com isso na cabeça, na ponta-da-língua, posso dizer.

Quando mencionei o sobrenome-portal para as questões que nos afligem e nos inflingem; pois é, nossa conversa na manhã de ontem foi decisiva – Na mesma medida do crescimento das ações para Bezos existe uma fiação dos valores, dos bens lançados sobre nós como algo não transcorrendo apenas como demarcação comercial.

Fala-se nas Universidades, logo em seus automáticos Congressos: NeoRreificação.

Por um lado, sim, mas surge forte minha passagem pela Antropologia Cultural engatada em fotos íntimas (nudez contratada por uma das primeiras agências de imagens femininas na Rede). Você sabe que me tornei assessora da empresa, deixando de ser matéria de divulgação. Melhor: material de exibição. Daí, o salto para a grande imprensa1.

Essa coisa de estar dentro e fora do que se vê no desfile das horas roladas em volta de informação mundial decide tudo, Vix.

De um jeito ou outro tenho onde morar. Tenho com quem conversar! Ah, já está de pé, hein garotinha? Você praticamente não dormiu.

Nem posso. Estou estatelada com os homens do Grupo Karam. (Sem ninguém mais à nossa volta).

Ah, não brinca! Meu bem, você entrou mesmo na fortaleza do Jardim (Rua Alemanha)? Depois me dá o número de lá.

Não fode, me diz como é que fica? A conversa toda girou no corte-cola do que diz Bezos? (Para lá do que ele empreende, a surpresa está no guia emitido/escrito – Amazon Arsenal, eu bem te disse).

Além do mais, na lata sua cara é non stop sex. Ainda mais com palavras imprevistas, um impromptu no calor da hora, da moda.

Com certeza, se penso em não ser somente o rosto bonito entre manequins das Confecções mais cobiçadas da Paulista.

Bastou eu sinalizar que os megaprodutores de Publicidade, Imagens do Tempo, Eventos por Segundo (caso do Clã Karam) estão ligados a um mundo onde não há apenas a lógica do acúmulo – (A “deixa” foi dada, inclusive, por eles dois, pai-e-filho, uma vez que procuravam modelitos para um evento empresa-família).

Estar na nuvem (logomarca dominante, global) só tem sentido quando se encontra um vazio (esvaziamento tático) ao alcance do não-imaginado2.

Valeu sua Especialização em Artes e Tecnologia. Quando isso se junta ao concebido apenas como Moda: o jogo vira.

As pedras se encontram. É hora agora de eu dizer Meu Bem.

Importante demais, o foco dado por nós duas à maior Fortuna da Terra. Nada subsiste apenas por capitalização, usura, usuário opinador da Web. Pulsa no subsolo do que apenas se vê, na rota dos espectadores universais, um amazing book of hours.

Tenho certa impressão de que estamos montando uma empresa na surdina.

Na calada do dia (com um olhar vidrado no que flui à noite apenas).

Não é por nada não: formamos aqui uma usina

(Bebete pensa. Mira a cafeteira. Está nua, abre a cortina do mukifo)

(O convite estala. Está lá no celular – Revista Maga Mega em Performance-Celebração –

Karam Studio Satélite)


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No piscar dos olhos – Em letra miúda, escândalo só faz subir escândalo até à tona. Até se contemplar o que vem como ditado: Na lona. Quanto mais encobre a somatória inestimável. Incrédulos olhos sobre legendas/letreiros onde os dividendos se dissolvem.

Escândalo sobre escândalo – Não adianta a fala da mulher-da-casa eclodir o nome

Odila Karam

Feito Chefe Real de uma Corporação de Evento e Imagem (Seja onde for) –

Sei no passar dos dias a respeito do crime em que esteve ela envolvida e logo o tempo diluiu entre uma reportagem e um retorcido campo de fotografias (onde a linda agente/gerenciadora se dissolve para melhor reaparecer)

Letra miúda – Abismo diário –

Anésia vem reclamar sobre minha fixação em jornais (antigos, em confronto com o que vem no calor da hora através da voz conjugal; comentários correntes por obra de estridência)

Qual vai ser o dia que você dará fim à pilha de lixo em forma de notícias. Bem no meio da minha sala? Eu posso?!!

Até quando te aguento? (Não resposta de Rodolpho, marido, aposentado) Ainda bem que trabalho fora. Não é de hoje. Grande parte do nosso sustento está aqui. Não vai me quebrar com sua bengala imprestável a louça presenteada por Odila, minha chefe querida de sempre e sempre!

Já tomou o mingau? Acordou Dadá pra fazer as compras do armazém? Minha hora chegou. Hoje vou chegar no trabalho de Uber. Não te disse? Ganhei um aumento. Esse vai só pra mim (economias privadas, onde olho seu não me alcança).”

Odila foi a responsável pelo crime.

Ela mesmo empunhou a arma contra o jornalista não-grato.

Anésia bate a porta com força. A sala estremece. A casa se atrofia. Não muda a aparência, a carregar impositivos móveis do início do casamento à guisa de fantasmas cascudos, carrancudos.

Não há despacho, exorcismo branco capaz de remover a cara feia do que se paralisa muito além de mero pertence e fixa um abissal espelho. Quanto mais estão petrificados móveis e bibelôs de uma residência empanturrada de coisas, emperrada por extensões de nós (3) mesmos.

Acorda, imprestável!”

(Hoje não repetirei meu bordão aos ouvidos do filho quarentão. Nada mais rima comigo aqui dentro)

Odila Karam empunhou a arma.

A testemunha (porteiro da Residência, localizada na Rua Alemanha) chegou a confirmar a entrada de Dan Lebovici, jornalista da Folha-Estampa, sem que houvesse presenciado a retirada do jovem repórter do recinto. Sim, houve estampido de tiro.

(O breve depoimento não pode mais ser checado por conta do desaparecimento de Ozué, o referido funcionário da Mansão no Jardim). Curioso, ver que a defesa de uma habitação – um patrimônio – em relação a quem vem de fora (através de portaria/segurança) acaba sendo ataque vindo de seus interiores a um-outro.

Não está esse-qualquer necessariamente montado em abate, afronta. Ao contrário, arma-se de dentro a dizimação de vivos.

Em suas comportas mais protegidas, a ameaça, articulada como adentramento, ganha desenvoltura, compondo um claro alvo. Atinge a existência do que é exterior.

Não apenas eu deduzo. Disseram sobre o dito, em pequenas notas, da grande suspeita sobre a Agente/Promoter O.Karam.

As notícias menores, ao rodapé das manchetes, ao paralelo do que se lê como hora/ordem do dia, são as mais importantes. Quem disse mesmo isso?”

Minha bengala caiu num ponto onde não posso pegar! Acorda, meu filho. Já é quase meio-dia, Dadá. O tempo corre contra a gente. Não posso me erguer. Levanta de vez, Criança!

( )

Tem quase meia-hora que não posso sair de onde estou. Que sono é esse para quem não trabalha? Nada faz na vida?

Quando é que você vai nascer?

Ele não quer crescer. Não gosta de sair de casa. Imagina arranjar um trabalho!

Já te disse, tantas vezes, Rodolpho. O garoto é problemático. Precisa ter um tratamento (coisa fácil, com o pagamento de Seguro Saúde garantido pela Agência Karam). Agarrado na gente, tudo certo! Mãe e pai adoram tamanho afeto. Mas parece ter criado bolor (a idade avança e Dadá caminha cada vez mais pra dentro, do quê?).

Mofo! Onde parece ser amor, amor pela vida, Rodolpho!”

Levanta, imprestável!

1 Fluxograma (Coluna diária com redação minha assinada pelo jornalista-sênior Teo Graco, especialista em pesquisa infonáutica).

2 – Te lembra do livro DEFINED BY A HOLLOW: an unfilled space : cavity, hole in the hollow of a tree. 2 : a depressed or low part of a surface especially : a small valley or basin.