Simultaneidade e conflagração com os corpos em um mesmo espaço a executarem gestos distintos, cada um fechado e ensimesmado, dissociados do entorno, mas em determinados momentos fazendo coincidir com uma convulsão coletiva um “agora vai”. Nos sentimos a nós mesmos, quando não esperávamos, e as energias confluem para um único momento. Nos olhamos. Agora vai!, diziam, prestes a mudar de rumo naquela paisagem noturna forrada de terra.
Embalagens, sacos, lua. Wesley, um corpo exausto, se arrasta pelo espaço, extenuado, e para – talvez cedo demais; ao chão fazendo desistir tudo. Sem nada dentro de mim, estou tentando lembrar o que vim fazer aqui, a minha ação. Alguns sacos voando com o vento das frestas do portão em cores cintilantes. Não podemos ofertar ao espaço, com essa insistência, nada além dum vazio, ele disse. Por isso, o tom de expedição na atitude, mas que chegava à exaustão em Wes. Ele havia se cansado, não conseguia se mover mais. Todos a procura de algum canto para escutar ou cheirar. A sua respiração ofegante exaurida na terra dizia: É uma sensação muito boa, a de sondar o espaço infinito, tornando-o morada próxima, tornando-o roupagem de estrelas, autorizando as próprias mãos sentirem o peso da matéria, e criarem uma linguagem própria na qual o mundo “para de pé” dentro de uma carne em comum. Mas o momento é prévio, sempre anterior ao sentido. Estamos sentindo os toques às cegas na neblina. Coloco a concha da orelha na terra gélida, a língua na parede, os pés nos plásticos.
Quando uma sintonia parece se estabelecer e se convulsionar em todos ao mesmo tempo naquele espaço – mas que sintonia?, a da exaustão?, onde nos encontramos?, eu me perguntava –, depois de romper a suspensão do plateau de modo abrupto, a força desagregadora da multiplicidade de vontades faz voltar atrás, ou seguir adiante no imperativo anterior àquele. Mudança de direção, desistência, desacordo. Algo acontece: um coreógrafo aproxima-se de um transeunte (as pessoas que estavam lá fora) e toca-lhe as faces, convoca-o a alguma partilha em sedução barata, e rompe também aos poucos, sem que haja um leit motif que o leve a alguma coisa além disso – então não – novamente, nada acontece. Ninguém entra. Uma ação que não leva a nada.
Olhei ao redor de mim, nós sempre em silêncio, e me perguntei, angustiado, se isso muda com o tempo, com a sedimentação do tempo. Os ruídos de palavras soltas, gritos, cacarejos em looping vão se somando até formarem a ação necessária, feita para preencher o nosso espaço com os dejetos – uma paisagem feita de expansão cósmica. Cabe tudo aqui dentro, e tudo o que as mãos podem ofertar ganham espaço. Ganham o seu lugar na repetição, seja o gesto ou o ruído registrado na máquina da Giulia. Eu não parava de jeito nenhum, mesmo na mais mórbida paralisia depois do fim de uma expedição dentro de um saco. Uma pulsão nova. Isso iria parar? Apesar dos passos firmes seu suor não escondia a hesitação, a dúvida, o susto da ignorância. Um suor desesperado depois da exasutão. No entanto foi ele quem se dirigiu à haste de ferro usando-a como um taco de beisebol, espécie de arma, para estourar os soldados que estavam fora? Foi nosso pensamento imediato. Corri para interrompê-lo. Todos o seguraram pelos braços, arrancando-lhe das mãos a haste. Mas na sequência, quando voltamos com as movimentações, ele recuperou a haste e, correndo, bateu-a na máquina até estourá-la por completo.