BEBETE BEZOS

(Mauricio Salles Vasconcelos)

Episódio 4

BEBETE BEZOS


Em andamento de folhetim, segue no LÁPIS o Post Tela-Romance Bebete Bezos (Episódio 4).

O projeto se centra numa recriação, no feminino, de Beto Rockfeller (telenovela emblemática de Bráulio Pedroso), acrescida de motivos romanescos extraídos de autores como José Agrippino de Paula, Alfred Döblin, Robert Musil e Witold Gombrowicz. Em pauta, se encontra uma atualização de personagens do século XX instalados na época multimidiática gravitada em torno dos domínios de imagem/influência tal como configura Jeff Bezos (em correspondência neomilenar com o que Nelson Rockefeller exercia sobre o protagonista de Bráulio Pedroso, nos anos 1960, por força do poder econômico).


Mauricio Salles Vasconcelos

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Não sou louca de abrir meus arquivos, assim de frente, com uma desconhecida. Embora eu só creia na Intuição,

Íntima palavra raptada de um livro roto de religião, um fragmento de filosofia à espera de alguém ao léu, abismado nalguma estante depois dos cursos escolares.

Só que me atenho a fatos, os mínimos (os mais perturbadores): a garota não tira os olhos de mim, imersa em curiosidade por essa anciã energética, com rosto angelical, movida por chicote a causar choque (apenas pelo poder de uso trazido por um objeto tão extremado, como que posto de lado, em franco desuso, cabível apenas numa existência selvagem, furiosamente impensável sobre o que resta de humano em mim). Eu: calçada em inseparáveis botas coruscantes de borracha, a transmitir a sensação de estar sempre pisando em lama, em armadilhas por cima do solo, do mais simples chão descortinado”


(O que eu penso não digo completamente)


“Você veja, eu não fui incluída na Revista da Firma e da Família. Não queria. Nem fui convocada, de vera (mesmo sendo convidada, jamais aceitaria).

De todo modo, causa espanto: quando sou a base da Fortuna (origem tosca, obscura, agrária) diluída em Fantasia Maga Mega”


(Justo no instante em que penso no jamais verbalizado muito menos escrito, a jovem mulher ao meu lado acaba por querer tirar uma foto, uma resenha, um resumo do que transcorre na Sala Pan Pauliceia)


“Meu filho se afundou nesses seios (faz tudo pela mulher que está lá, proeminente, puro busto em saliência). Tudo certo, são bem torneados, cobiçáveis, tendo lá dentro a promoter da informação, Odila Karam.

Só que no barro mais pegajoso, vermelho sangrado, no pasto de bichos peçonhentos, os Karams se tornaram gente exibida nas Comunicações, essas impressas e paginadas sob a forma de álbum ou revista mensal (a ser colecionado como registro-documento de todo um flagrante da História, a mulher dos grandes seios suplementa ao que vou assistindo caracterizada como corpo e coro da plateia)

Vou assistindo ao relato do significado das empresas Karam, tal como expõe o Empresariado Cultural por cima de um palco/púlpito. Enquanto faço parte de uma Self-Panorama angulada pela recém-apresentada (apenas Bebete) Bartolomeu.


Bebete: uma tomada fotográfica de telefone portátil onde tudo cabe (e eu me permito participar de um comentário paralelo, com chicote e tudo, entre o muito pensado, de algum modo, ou por gesto transmitido, jamais dito)


(No fundo da fotografia, se delineia a família de 3 componentes, tendo eu, num relevo destacado, no primeiro plano da imagem da Festa).


Como se por meio de colagem eu, Brites – transformada em Brigite, um biju de círculos pretensamente chiques através de um apelido/nome trocado Brites/Brigite, por conta de meu retiro com animais ao avesso do limiar urbano dos negócios da Família.

Brigite em Síntese (também tenho esse nome por eu ser bem loura/cabelos-chicotes esvoaçantes, sexy nalguma noite esvaída, provocativa através de meus grandes seios também muito salientes) –


Como se Brigite fosse acoplada – efeito eficientemente falso de montagem – ao centro familiar comemorativo de magazine-arte-comportamento-cultura e emancipação em forma de álbum.

A foto sairá em canais difusores do Dia Seguinte – Bebete me interpela e eu prontamente consinto (nas refregas mais entranhadas do que sou, na tentativa de salvaguarda de um “próprio pensamento”, sou clicada várias vezes)


DEPOIS do Ato, tenho chance de cumprimentar Cid e falar que a concepção de musicalidade em conjunto com as pantomimas performativas de Boriska pode ganhar uma “incisão ainda maior”.

Sim, fiquei motivada – Quando falo o nome da artista visual/performer, Boriska, em pessoa, chega para ouvir minha conversa com o antigo amigo de bairro, um namorado com quem fugi para ter pela primeira vez o que se chama de Sexo.

– Sim, fiquei motivada, Cid, por você e Boriska na cena onde a música vinda de seus repentes rappers se conjuga no compasso do corpo em movimento de manequim desenfreado

(Gostei demais, digo para ela, do personagem composto por Boriska em atenção ao universo de estilo e exposição das Artes e das Posturas de toda uma época, acervo de crítica/cultura todo mês nas bancas do País


A voz de Odila Karam ainda ressoa, volta a ser complementada, agora que a Editora-Chefe de Maga Mega está fora do palanque e recebe cumprimentos, comentários acalorados)

Observo que no rompante de minha fala – vinda de uma troca com o parceiro de sobrevivência afetiva no perdido subúrbio Crucilândia, ganhando aos poucos um foco de observações capaz de encantar e paralisar Boriska à nossa volta –

Nesse rompante de fala, Odila Karam nota, um tanto distante, a formação de um núcleo cada vez mais atrativo. Não é mais em torno dela, após a Comunicação de Abertura, o sentido de agrupamento celebratório possível de arrebanhar os convidados mais ativos da tão propalada Vida Presente. Tal como buscam agregar Timbre Karam, Empreendedorismo, Firma, Família.


– Quem é?

– (Bebete)

“Uma Criadora Cultural Autônoma”


/Para minha surpresa, é assim que sou apresentada por Mazé Karam, na companhia sempre pontificada de Kuki. Bebete (sem nenhum outro nome)


Quando, de um a outro círculo de conversas em ativação para nomear a hora de agora, acabo por chegar perto de Odila – Pigmentos cintilantes de vestido, seios lendários, lábios por vezes contraídos sem perda do movimento de voz e opinião/


De Voz e Produção –

Porque ela esteve atenta quando girei meus braços pelo espaço da Sala Pan SP no momento de expor o visto e o prontamente pensado depois do Ato


Manequim e Massagista

Por Boriska e Cid Serrão


Agora sou conduzida até à Editora-Chefa Mega Maga. Porque ela manifestou interesse em me conhecer, totalmente observadora da reunião involuntariamente promovida por mim ao trocar impressões com Cid sobre o ato dividido com Boriska: “Massagista e Manequim,

Assim, percebo a possibilidade de você, Cid, tomar o papel receptivo (inanimado molde de figurino) enquanto Boriska atua como Modelista. Prestidigitadora? É essa a palavra, não?

Fica mais interessante o surgimento do Repto Rap, de acordo com sua definição: as palavras podem irromper do toque da figura múltipla encenada por Boriska. Quem sabe ela passaria a dar vida a um manequim, que também é fantoche e ser privado de fala. Marionete/Manequim. Pouco a pouco ficaria dotado de uma força nova para envolver a plateia com música e texto nascidos daquele exato momento”.


(Uma pequena audiência vai se formando. Boriska já está no meio do agrupamento, não cessando de balançar a cabeça, curiosa pelo que digo e por saber quem, de fato, sou)

“Não é tão impactante a sua chegada, já de cara assumindo o posto rapper. Mais intrigante seria o lugar de Cid nesse Ato enquanto cliente de uma massagem. Ao mesmo tempo, daria para ele sugerir a personificação do papel passivo de um títere. Sem esconder o que há de ambíguo aí, sem dúvida, entre o mestre do entretenimento e seu complemento, objeto um tanto autônomo.

A virada produzida por um homem gradativamente vivificado, eletrizado pelo toque de uma mulher (polo central da performance), pode dar um contorno impensado ao desempenho do Repentista Urbano (em seu repto)”.

/Boriska valoriza demais o dado de ser Bebete uma amostra em bruto da história-de-vida suplementar a de Cid. Porque acaba por expor tudo o que dele não se conhece e ganha um depoimento direto, indesviável, dito até sem fôlego pela convidada. Aquela ali infiltrada, componente gradativamente do projeto que envolve agora 3 no andamento da fala da garota, a última chegar na festa performática tão logo se encerra a Cena Manequim/Massagista para o público do Salão Pan Pauliceia/.


– Sim, Bebete, fico feliz em conhecer você nesse dia tão importante para nós. – Odila tem satisfeito seu desejo de manter contato com a garota tão logo ela desfaz o círculo formado à sua volta, caminhando com um braço e outro dado para Cid e Boriska. Vem de um sinal de mão feito por Mazé o rumo até a roda, nesse instante já pequena, onde ele se encontra com a mulher e a mãe, Brites/Brigite.

Fica apagado o momento em que estive no Jardim Europa na função de vendedora/provadora de roupas da grife Hoisel. (Chego mesmo a notar um entreolhar de Mazé/Kuki a esse respeito, na manifestação de um entusiasmo a ser segredado, feito coisa apenas de agora no instante em que sou introduzida no espaço de recepção dos convidados).

Um circuito recém-engrenado de pessoas em diálogo tem início. Aí dentro, na velocidade e no calor de encontros entre muitos, sou apresentada como uma figura vinda precisamente dessa noite.


– Bebete Bartolomeu, não é? Acabei de conhecê-la na plateia. Chegamos a tirar uma foto juntos. Quer dizer, essa tão falada Selfie, palavra reproduzida da cara de todas as pessoas. (Como se fosse uma única imagem de si ao infinito das postagens, Brigite encontra sua própria figura entre parentes e desconhecidos).


Quem é aquela ali?

Sim, a Intrusa. – Arremata Lionela, amante antiga de Mazé, duradoura ainda, amiga da família.

Te juro que é mais uma metida a influenciadora infonáutica. Não vai durar, Lionela. Fica fria. Nem Odila pôde contigo, não é mesmo?

Também, com a quantidade de amantes de todos os sexos sequiosos por conhecer no pele a pele a volúpia daqueles seios. Teve toda condição de virar as costas para o marido.

E os seus? (Papoula logo mira na reta do bustiê-lamê da amiga). Eu digo por minha própria experiência e puro gozo. Seu busto tão pequenino é fruta inesgotável. Ai ai: para quem sabe fazer amor, não é mesmo? (Vivos subentendidos, sem necessidade de palavras entre as duas, mantêm uma união discreta, assegurada por socorros de toda ordem).

(Mesmo “falando sozinha”, nos meandros mentais sempre sinuosos, Papoula não abdica de seu refrão – “não é mesmo?” –, não por acaso adquirido no ramo da Estatística onde possui várias empresas)


Você tem razão, minha querida, essa guria aí não passa de fenômeno de festa.

Porque isso tem a cara dessa nossa época. Fenômeno. Festa, num apagar e outro de um notebook (um caderno de notas pronto para virar vintage).


Papoula, está reparando que ela quase não tem busto?

Projeto de gente, minha filha!

Acontece que não para de chegar gente ali naquele meio.

Fica firme. Não sai daqui. Quanto mais cartaz dado nós duas perdemos o assento.

Lembro daquela brincadeira infantil na dança das cadeiras.

Ah, eu me recordo é do ditado: Quem toma vento, perde o assento.

É assim mesmo o ditado?

Sei lá, mas te digo: nós estamos sobrando nessa festa-fenômeno. Todas as pessoas fizeram um único grupo em torno...Reparou que nem o garçon passa mais aqui com o espumante...

(Nós duas aqui paradas, aqui de pé, é que acabamos por perder o “assento”)


Eu preciso saber de quem se trata.

O mais necessário é a gente se informar. Tirar a ficha na Rede desse nosso Mundo.

Basta ter acesso ao nome dela.