1
Não sei mais quem me disse – depois
Virando um disse-me-disse na minha cabeça aí
Por fora – como se fosse “prenda minha”
(Bem no tempo das rifas, cantigas locais e agruras por Atravessar
O verão solitariamente)
Por fora: quero frisar (pois jamais fiquei tão exposta)
Agora tudo-ouvido restou apenas coisa minha: o dito por alguém Mais que humano (voz fantasma funda o entrevisto)
A circular onde ponho olhos de leitura
“Estás se sentindo sozinha? não é para jogar fora a somente tua Hora,
Sugiro-te um salto até a Biblioteca Pública (Do Estado, a mais
Indicada” (será possível perceber que a tão referida pesquisa,
Em materiais municipais de consulta, contém certamente
O começo de alguma relação física, a mais concreta
Através de estudos enviesados)”
2
Quem vai até lá “está a fim de se arrumar, naquela tarde
Mesma, gosto de café na boca redonda, pintada, de pre-
Ferência” (A roupa é importante, eu complemento, porém
Devo estar plenamente ciente de que o silêncio se impõe
Sobre tudo: porque quando não é feita a leitura, de fato,
Nenhum humano se achega e diz logo o que estou
A fazer numa tarde sozinha em plena Biblioteca dia público
Fim-de-semana a fio (“ ”)
Por conta exclusiva da letra do livro
3
Pois bem aí mora o fundo recorrente de toda história – Verão
Aventura Amor na mesma página –
Nada se pode fazer quando no paralelo lido surge
O ser mais esperado (como que saído
De mim mesma, da voz entregue ao sempre-dito-esquecido
Virado sobre o instante imprevisto)
4
Até porq (dou de fazer tudo compacto no primeiro teclado Possível)
A pessoa a entabular conversa e pisca-pisca sobre meu seio
Tem os 3 sexos e sentidos dentro-de-si (Fui informada
Sobre a espécie de abrigo montado na encolha
De uma pública biblioteca)
Desempregados irrecuperáveis, povoações de rua metidas
Em ternos brechós saias de ciganas psicóticodélicas
“Tarados” mesmo entram em meio a Sterne
Externam sobre o verão da coisa pública
A imiscuir-se onde não mais se pensa
Onde não mais ninguém pensa (estrita sala em leitura/prédio
Tomado)
5
Brilham os rostos de suor – não é só uma, amontoam-se as
Criaturas por força de minha concentração – Preciso consultar
Haraway H.G.Welles G.H tudo sob afronta de um corpo
Perdido em mãos alheias [AQUI NÃO É UM SEBO,
AQUI NÃO HÁ UM ÚNICO SER,
AQUI A AVENTURA DO VERÃO SE FAZ VERÍDICA]
Livro a livro, com a boca lacrada, porém úmida, cito, cato
Quem vier no momento mais incidental
À linha da letra tal cópia perfeita do que estou a viver
Segundo o vindouro volume DO ESTADO DAS COISAS
Como se não estivesse retida pelas palavras do que se escreve
Bem Agora
Exatamente
Tifany Toledo é formada em Ciências Sociais (Hunter College, Nova York). Escreve diariamente, depois de frequentar Oficinas de Literatura, entre as quais aquelas coordenadas pelos Laboratórios de Criação (FFLCH/USP). Elabora o livro que tem o mesmo título dos 5 poemas publicados no LÁPIS.