O argentino Osvaldo Lamborghini (1940-1985) realiza um corte e uma escansão desconcertantes no espaço da poesia. Um dos mais inventivos autores de narrativa, não apenas em língua espanhola, desde o final dos anos 1960, ele surpreende até hoje leitores de todo mundo – como Paul B. Preciado, com quem travou contato quando de sua mudança para a Espanha, em Barcelona, mais precisamente. Com seu projeto Teatro Operário de Câmara, publicado postumamente, reunindo um material textual-iconográfico composto por ficções e imagens em vasto sentido de montagem (tudo centrado nos modos populares e midiáticos do sexo como representação e saber), Lamborghini deixa à mostra em seus poucos anos de vida a voltagem em que se movia sua extraordinária produção, mais conhecida por títulos narrativos, entre os quais O menino proletário, A Causa Justa e Ivan Cloaca, traduzidos por mim e Pedro Magalia[1].
Seus poemas inovam, impactam de um modo igual ao de suas fábulas temperadas por uma acutilância sexualizante digna de Sade e um senso de devastação de valores, bem próximo de escritores como Céline e Gombrowicz.
Neste “Prosa Cortada”, observável é o modo como o corte de prosa e a escansão da linha anti-lírica refiguram a concepção poemática através de uma voragem paródica e metacrítica, sob o influxo de uma desnorteadora moral, capaz de mapear história, cultura, sexualidade, subjetividade à luz de apuradas captações das teorias e autorias que modulam a contemporaneidade. Cada verso se lança à incisão atualizadora de uma arte ativada em vários veios de referência e linguagem. Ao contrário, no ponto mais avesso do que majoritariamente é realizado no Brasil com o rescaldo liricizante da modernidade e um pálido eco de presentidade centrado quase sempre no fazer literatura com literatura, especialmente aquela avalizada pelos órgãos disciplinadores da criação (editoras – mídias – universidade). Quando não comparecem retóricas da corporalidade moldadas por mais que conhecidas apologias das orientações sexuais segmentadas, sem potência erotizante e politizadora, presas de denúncias instituídas, limitadas a focos tautológicos capitalizados por toda sorte de corporação e empresariamento discursivo.
Numa época de poetas de editoras, de entusiastas dos círculos autorreplicantes da velha política literária, dos emissores de truísmos identitários, ler Lamborghini surge como uma enorme novidade, a despeito de ter escrito nos anos 1980 o poema que se publica aqui, acompanhado do texto original.
Mauricio Salles Vasconcelos
[1] O menino proletário – 3 Narrativas. São Paulo: Córrego, 2022.
Imagem: La Izquierda Diario
PROSA CORTADA
1
Se tem uma coisa que eu odeio é música,
As rimas, os jogos de palavras.
Nasci em uma geração.
Morte e vida estavam
Dentro de um caderno pautado:
Morte e vida,
O masculino e o feminino.
Orgasmos sem pátria
E os órgãos de uma ponta à outra,
Estavam contornados em branco.
Apontamentos, apontamentos apontamentos
Ou amputações,
Maldito "Rochedo".
É manhã, chaleira prateada,
No começo de tudo, qualquer olhar fica de fora:
Nasci em uma geração.
Mas antes disso, houve outra geração.
Antes de mim e antes da minha,
Ela era sábia em suas cartas,
Que não precisavam se acusar muito
(Ou tanto) o tanto,
Para mostrar alguma verdade.
Nasci em uma geração,
Ó vida – o tolo reivindica.
Aqueles ancestrais eram livres.
Com uma liberdade à beira,
Uma estupidez quase impossível
Hoje de alcance, eles gravitam como nosso modelo
Nós, expostos à claridade.
Nasci em uma geração.
Um método é necessário.
O tédio da vida de hotel
Tal como uma simples curva na estrada.
É de-tarde neste manuscrito,
As horas voam.
Depois do mate vem o almoço,
Café num bar, uma curta
Caminhada pelo centro e, de volta,
Voltar ao esconderijo,
Agora é a tarde, um pouco
Mais tarde neste lápis,
E continuo pelo simples prazer de caminhar
Como quem trafega em seu cubículo
Contra a janela...
Fumar contra a janela.
Fumaça azul, fumaça verde, fumaça preta, fumaça vermelha
Não devolvi o livro que me emprestaram
Eu até queria roubá-lo,
Guardá-lo para sempre, um advérbio que se esvai.
Garanto-te que estes pensamentos não me vêm à mente.
Nasci em uma geração, era de-se-esperar.
Há uma batida suave à porta.
Aqui estão, os mais ridículos. Nasci
Em uma geração.
Este é um verso,
O cão ladra na superfície fina,
Como se concluísse que o riso do idiota não é assim tão horrível
Quando, no meio do trabalho, nos roçam com sua asa.
Esta complacência no erro é a minha marca registrada,
Porque nascido numa geração,
A fábrica foi destruída pelo mais brutal
Maneirismo, a ocultação das pernas
Curtas, próprias da falta de talento,
Embora eu tenha me divertido um pouco por alguns anos.
Odeio música, odeio arte, odeio
Meus paradoxos em falsete e voz inconsistente.
Amo porém: amo o pênis
Cujo rosto não consigo adivinhar habilmente mascarado
pelo tapa-sexo de uma braguilha.
Entre olhar e tocar, não sei o que pensar,
Faço votos e sufrágios.
A forma de um poema é um infortúnio passageiro.
Também, para que algumas partes do meu corpo possam
permanecer vivas,
preciso cobri-las com farinha.
Um infortúnio passageiro, pelo menos é assim que falo no ritmo em busca,
O ritmo arbitrário do projeto sem substância,
E escrevo como um recém-chegado, feito um novato
Na minha idade — "projeto", "substância".
Geração,
de uma agonia, um arrebato borbulha cristal
senão madeira fresca.
Sempre mantive essa tendência, inevitavelmente a preservarei,
flor de laranjeira:
Tão logo algo está prestes a nascer, viro a cara,
Mesmo quando brota atrás de mim, com os dedos faço
um gancho.
É noite na cor marfim que invade a mão, sua peladura.
É hora de fechar os olhos porque o amanhecer não tarda.
De novo estão abertos, táteis, despertos justamente pelo amanhecer.
Ao fogo, então, à chaleira e à luz do gás, ao tabaco, às brasas.
Sexualmente perfeito, ou quase,
Deus bondoso,
Ao amanhecer, o artista não te esquece, nem rima contigo,
Porque toda rima ofende: basta, ampute teu discurso.
A manhã é pesada como uma massa de mal-entendidos
sobre a vanguarda.
Pego um livro e depois outro, e agora sei, a curiosidade
toma aquele outro como alvo.
Possivelmente, As Origens da Psicanálise,
Pelas letras, pelo tema,
Pela experiência da satisfação.
Apliquei-me à tentativa de ser sincero, de cair na armadilha.
Comecei esta prosa calmamente, com lágrimas nos cavalos esquecidos,
Meu espírito numa disposição que não era
apenas um estado de espírito,
Mas algo mata o ser que se conjuga
E sinto que os espaços em branco são bastante escassos.
Com bigodes ralos, levemente sobrepostos, está inclusa:
A efígie da mãe numa foto do meu rosto.
O pobre Tsarevich cunha moedas falsas.
E já é meio-dia na bandeira de madrepérola.
E isto vai tornar-se ainda mais desagradável, mais pesado e mais sexual.
Insatisfeito na mente, mais tolo nas suas reviravoltas de surpresa.
Como um voo alto, ou a sua pretensão subaquática,
Mais grosseiro na sua autolimitação absurda
e mais doloroso no seu orgulho de cobaia.
Não, não é a falência de um talento,
Mas sim o descrédito de um interior.
Sem ironia, reino no meu mundo moral.
Esta alegre falta de perdão é o que se alcança após um longo trabalho.
Há uma batida na porta, espero
Que seja o médico, o visitante inesperado.
O hospital feito uma flor desejada do futuro.
Incansável, sempre em busca de uma falha "poderosa",
É bem possível que eu tenha nascido em uma geração,
embora seja verdade que me isolei,
Mas para melhor compartilhar o ídolo precioso, e dois:
Como se ao mesmo tempo eu quisesse adorá-lo sem testemunhas,
Acreditá-lo e comê-lo sozinho, a aventura de ter Lacan
no quarto ao lado.
Muitos domingos chuvosos já são necessários para minha pele esfriar.
Para me entreter, eu amava uma borboleta então por causa do furão,
Ar
ar,
Ar de equilíbrio sem cobre e ar de morte que
verifica tal qual,
Dado que na cozinha do hotel a luz não é ruim:
Ali, um fogo tentador triunfa.
Ignorando a sensação de "pensamento",
Eu não sabia que caminho tomar: Caráter,
Um escritor atingiu sua maturidade grave como um doente grave,
Um falso sotaque acobreado na balança
Eu havia prometido a mim mesmo excluir o trocadilho, mas falhei
como vidro,
Como o juiz, quando o tenor canta, oh Senhor.
O grito azul, condenado e profano.
Eu –
Tinha —
Proibido Pois
Alusões literárias, a rima espirituosa nesta fase perdulária.
Mas eu nasci em um espelho onde qualquer "objeto" era acessível,
exceto a distância
a escória do imbecil
sua cúpula brilhante
de ouro e rubi
É tão difícil não gostar de alguém!
Hoje terminei, por telefone, com Juana Blanco, aquela garota,
a escritora.
Nós nos amávamos porque os poetas sempre amam.
Faz parte do trabalho, eles amam em poemas, fora deles,
E eles até ousam amar em seus próprios fracassos ousados-
Truques — O inconsciente, o pequeno objeto e o ser para a morte.
Em uma geração, eu certamente nasci em uma geração.
Primeiro a palavra, depois a imagem,
Olhos que beiram.
Juana
Você será a última em uma corrente apodrecida.
Em uma fileira, eu tenho os homens murchos restantes.
Não há dúvidas de que a arte visa economizar trabalho. Como amostra, então, basta
Minha última produção de roupão:
(aspas fortes e sons de lontra)
"Entrar nas águas, que tolice,
tão tolice quanto aquele outro ditado
de pura tolice, distante e alemão.
Entrar nas águas, porém.
O corpo sem limites, fechar-se sobre,
entrar: corpo d’água na vertente.
Ver, sem sê-lo, é geralmente a operação do verso.
O verso: algo que está muito longe.
E se houver uma batata no centro do crânio,
ela pode ser furada (com bastante facilidade)
com um pedaço de pau: sem chance,
sem nunca ser
ou dizer isso.
Apoiando sua corrosão contra o fogão.
A parte de trás das costas ou a tentadora
curva das costas — linha,
a tentação perturbada de cada vértebra
(árabe e rubi)
que termina, e lá
feijão cozinha:
impossível saber que fumaça é refratada.
O vapor, a água:
é lá onde as águas,
O cadáver e o advogado,
um farto do pênis do outro,
no outro e no outro
de secreções e glândulas
dentro
Por uma arte retrabalhada pela ciência
— Mas a fraqueza de uma mente venerável
não precisa (hábil, erigida como motivo)
editar uma ideia em caracteres.
Ou a ideia cesariana de uma decapitação.
Imperador César:
mão erguida."
(vaso)
intimidades,
Nasci em um caixão de prata E desde o meu nascimento,
Da minha geração,
Assustei o leitor
Estúpido, não tão estúpido
Mas observando:
sem ele a literatura acaba:
que baboseira.
Um olho mágico se abriu no caixão de prata,
Bastou uma pincelada
Ou o leve piscar de um único cílio:
Lá estava eu, gordo e amamentado, com Bochechas brancas
E dobras em cascata cuja finalidade era cobrir
O umbigo: imodesto, por algum motivo
... em uma geração...
"Crie-o sem chupeta
Porque visto de frente ou de perfil
Um bebê colado naquela borracha
Já desenha o futuro
Oratória de um imbecil"
... em uma geração...
Tudo foi percebido, ouvido, balançado, sentido,
sugado, ingerido
No caixão de prata
Entre os cobertores irritantes e o creme pré-nupcial
de excremento
... em uma geração...
Com um irmão brilhante quando iria gostar
de cães como eu,
Inofensivo na noite latindo, com uma irmã
bela e tão amada (que infâmia),
E com um pai: delírio extremo.
Mas agora a mãe vem até mim
Grávida de sarcasmo
Amorosa como nunca antes
E inclinada que nem madrasta
Vem com seu cajado feito de cinzas.
Talvez eu estivesse errado desde o começo, mas ninguém
é tão desajeitado.
Nas mãos do médico me torno uma andorinha, carne sutil e atenta
este é um modo de dizer
e também um modo de pensar
culpado e ao mesmo tempo
irresponsável
absolutamente irresponsável
culpado e dois
irresponsável
três
um veredito
ditado, consumido e consumado
quatro
o que eu sou
odeia jogos de palavras
e a aura concupiscente
unida ao que se chama
uma ferramenta tipográfica significativa
vários layouts
pontos ausentes
e a dúvida sempre
entre "joia" ou "antibiótico"
quando o melhor
o melhor no decisivo
talvez possa estar
na simples aspiração por um bom verso
expulse o ar agora
em um diálogo mais amoroso
arauto amoroso enviado
com o gentil leitor
Mas o beijo entre dois homens
tem mais pérolas que um rosário
Expulse o belo embrulho agora
Cuidado
O destino fareja.
Quem está sozinho em um quarto sabe que por algum motivo está
sozinho e em paz.
Um amor pelo ser, fundamental, um amor de repugnância carismática.
Estados de memória muito intensos durante os quais
nada é lembrado.
A graça ocorre ao brincar com a hipótese inverificável.
Eu entendo a pele do burro, seu pelo nativo,
Mas tenho problemas de outra ordem.
A forma de um poema é um infortúnio passageiro.
2
No templo circular de um Hermes Pedestre...
Era uma vez um venerável ancião.
Um simultâneo que também era contemporâneo
e queria que seu filho tivesse uma posição,
alta, pelo que se entende, na medida do possível.
Ele a tinha em lidar com cadáveres sem ser médico,
nem coveiro. Símbolos se alegram aos pés do camelo, na areia,
mas não é tão fácil mutilá-los:
eles surgem sem possibilidade.
A goma de mascar, no cinzeiro, germina o oposto
de seu próprio ser.
Felizmente, um pseudônimo embranquece o olhar.
Sim
Senhora Ridícula
Mais Medula
Os velhos não sabem o que fazer com suas vidas
mesmo que o mar esteja a dois passos
do píer de Portland
ou do quebra-mar de pedra: alto
e não grosseiramente autoerótico,
mas correndo em direção às ondas antigas.
Agora, quem olha remove o véu cinzento.
Dossiê oculto,
um tumulto no colapso.
Representação.
Este é o escândalo do lado da comédia.
Quando não, o prazer abominável, Filho,
de espremer a despedida com uma careta de lágrimas.
O que falhou na câmara nupcial, o gato
e um par de calcinhas de enfermeira
enquanto os corpos ágeis lutavam pelo prêmio.
Agora não há deserto suficiente.
O nunca da vida após a morte está faltando
ou há duas mortalhas extras,
sudários de cultos opostos.
Nem pensar.
Os corpos ágeis dividiram o bolo.
E continuar é tremendo.
Resistiriam apenas os defeitos indomáveis de qualquer tradução.
Em vez disso, um clitóris magnífico se lança à aventura:
melhor deixar assim,
O pênis exagera os desejos.
PROSA CORTADA
1
Si hay algo que odio eso es la música,
Las rimas, los juegos de palabras.
Nací en una generación.
La muerte y la vida estaban
En un cuaderno a rayas:
La muerte y la vida,
Lo masculino y lo femenino.
Los orgasmos sin patria
Y los órganos de parte a parte,
Se perfilaban en un blanco.
Apuntes, apuntes, apuntes.
O amputes,
La "roca" de la maldición.
Es de mañana en esta pava argéntea
Y al empezar ya sobra una mirada:
Nací en una generación.
Pero antes había otra generación.
Antes que yo y antes que la mía,
Y ella era sabia en sus letras
Que no necesitaban acusarse demasiado
(O tanto) o tanto,
Para mostrar alguna verdad.
Nací en una generación,
Oh vida -el tonto en su reclamo.
Aquellos antepasados fueron libres.
Con una libertad rayana
Con una estupidez casi imposible
Hoy de lograr, gravitan como nuestro modelo
Nosotros, los que estamos más en claro.
Nací en una generación.
Es preciso un método.
El aburrimiento de la vida de hotel
Como simple recodo del camino.
Es de tarde en este manuscrito,
Las horas se pasan volando.
Después del mate vino el almuerzo,
El café en un bar, un corto
Paseo por el centro y de vuelta,
De vuelta al escondrijo,
Ahora es de tarde, un poco
Más de tarde en este lápiz,
Y continúo por el simple gusto de andar
Como quien anda en su pieza trina
Y contra la ventana...
Y contra la ventana fuma.
Humo azul, humo verde, humo negro, humo colorado
No devolví el libro que me habían prestado
Y hasta me gustaría robarlo,
Quedármelo para siempre, adverbio que se esfuma.
Aseguro que estos pensamientos no asaltan.
Nací en una generación, era de esperar.
Golpean con suavidad la puerta.
Aquí están, ridiculos.
Nací En una generación.
Este es un verso,
Ladra el perro en la superficie rala,
Como para concluir que no es tan horrible la risa del idiota
Cuando en plena labor nos roza con su ala.
Esta complacencia en el error es mi marca de fábrica,
Pero nacido en una generación,
A la fábrica la chongueó el protervo
Manierismo, el ocultamiento patas
Cortas de la falta de dotes,
Si bien me divertí un poco durante algunos años.
Odio la música, odio el arte, odio
Mis paradojas en falsete y mi voz inconsistente.
Pero amo: amo el pene
Cuyo rostro no puedo adivinar enmascarado hábil
por el antifaz de la bragueta.
Y como entre mirarlo y tocarlo no sé que pensar
Hago votos y sufragios.
La forma de poema es una desgracia pasajera.
También para que algunas partes de mi cuerpo se
mantengan vivas
Debo recubrirlas con harina.
Desgracia pasajera, así por lo menos hablo en el ritmo buscado,
El ritmo arbitrario del proyecto sin sustancia,
Y escribo como un nuevo, como un novato
A mis años -"proyecto", "sustancia".
Generación,
de una agonía campana burbuja de
cristal o madera blanca.
Siempre ¿mantuve esta tendencia e inevitable la conservaré naranjo:
En cuanto algo está por parirse, volver la cara,
Pero aun cuando se nace a mis espaldas con los dedos hago gancho.
Es de noche en el color marfil que invade la mano, su pelambre.
Es hora de cerrar los ojos porque pronto el alba.
Pero otra vez abiertos, táctiles, despiertos justamente por el alba.
Al fuego entonces la pava y lumbre de gas al tabaco, brasa.
Sexualmente perfecto o casi casi,
Amable Dios,
Al empezar el día el artista no te olvida, ni te rima,
Porque toda rima ofende: basta, amputes tu discurso.
La mañana es pesada como un amasijo de malentendidos
sobre la vanguardia.
Agarro un libro y después otro, y ya sé, la curiosidad
toma a ese otro como blanco.
Posiblemente, Los Orígenes del Psicoanálisis,
Por las cartas, por el asunto,
Por la experiencia de satisfacción.
Me apliqué al intento de ser sincero, de caer en el lazo.
Empecé tranquilo esta prosa, con lágrimas en los caballos olvidados,
Puesto mi espíritu en una disposición que no fuera
solamente un ánimo,
Pero algo mata al ser que se conjuga
Y siento que las reservas blancas tiran más bien a escasas.
Con bigotes ralos, tenuemente sobreimpresos, se incluye:
La efigie de la madre en una foto de mi cara.
El pobre zarevich acuña en falso.
Y ya es mediodía en el pendón de nácar
Y esto se va a volver aún más desagradable, más pesado y más sexual
Mente insatisfecho, más tonto en sus giros de sorpresa.
Como un alto vuelo, o su pretensión bajo el agua,
Más burdo en su absurda autolimitación
y más hiriente en su orgullo de cobayo.
No, no se trata de la quiebra de un talento,
Sino, o más bien, del descrédito de un interior.
Sin ironía, en mi mundo moral reino yo.
Este alegre imperdón es lo que se consigue después de un largo trabajo.
Golpean la puerta, espero
Que sea el médico el visitante inesperado.
El hospital como flor deseada del porvenir.
Incansable, a la búsqueda siempre de una "poderosa" falla,
Es muy posible que haya nacido en una generación,
aunque es cierto que me recluí,
Pero para compartir mejor el ídolo gema, y dos:
Como si al mismo tiempo quisiera adorarlo sin testigos,
Creérmelo y comérmelo solo, la aventura de tenerlo a Lacan
en el cuarto contiguo.
Ya son necesarios muchos domingos lluviosos para que se
refresque mi piel.
Para entretenerme amé entonces una mariposa en aras de fernet,
Aire
aire,
Aire de balance sin un cobre y aire de la muerte que
comprueba tales,
Habida cuenta de que en la cocina del hotel la luz no es mala:
Allí triunfa un fuego tentador.
Metido a sugerir la sensación de "pensamiento",
No sabía qué camino tomar: Personaje,
Un escritor llegado a su madurez grave como un enfermo grave,
Un acento de cobre falso en la balanza
Me había prometido excluir el retruécano, pero fallé
como el cristal,
Como el juez, cuando el tenor canta, oh Señor.
El grito azul, condenado y profano. Me—
Había—
Y prohibido
Las alusiones literarias, la rima guasa en esta fase perdularia.
Pero nací en un espejo donde cualquer "objeto" era accesible,
salvo la distancia
la crápula del imbécil
su cúpula rutilante
de dorados y rubí
¡Es tan difícil no gustarle a nadie!
Hoy rompí por teléfono con Juana Blanco, esa chica,
la escritora.
Nos habíamos amado porque aman siempre los poetas.
Son gajes del oficio, aman en los poemas, fuera de ellos,
Y hasta se atreven a amar en sus propias osadías de fracaso-
Tip— El inconsciente, el pequeño objeto a y el ser para la muerte.
En una generación, seguro que nací en una generación.
Primero la palabra, después la imagen,
Ojos rayanos.
Juana
Serás la última de una cadena putrefacta.
En ristra, me quedan los hombres ajados.
Es indudable que el arte quiere ahorrar trabajo.
Para muestra entonces basta
Mi última producción en bata:
(fuertes comillas y una musteola suena)
"Entrar en las aguas, qué tonto,
tan tonto como aquel otro decir
de puro tonto, lejano y alemán.
Entrar en las aguas, sin embargo.
El cuerpo ilimitado, cerrarse sobre,
entrar: del agua en la vertiente.
Ver, sin serlo, suele la operación del verso.
El verso: algo que está muy lejos.
Y si una papa hay en el centro del cráneo
se la puede (bien atravesar)
con un palo: sin ningún acaso,
sin jamás estar
ni diciéndolo.
Apoyando su corrupción contra la estufa.
El dorso de la espalda o la tentadora
curva de la espalda—línea,
la tentación turbada de toda vértebra
(árabe y rubí)
que termina, y allí
habas cuece:
imposible saber qué humo se refracta.
El vapor, el agua:
es allí donde las aguas,
El cuerpo muerto y abogado,
harto del pene del otro,
en el otro y en el otro
de secreciones y de glándulas
en
Para un arte retinglado por la ciencia
—Pero la debilidad de una cabeza venerable
no tiene por qué (hábil, erigida en motivo)
editar una idea en caracteres.
O la cesárea idea de un descabezamiento.
César Emperador:
la mano en alza".
(vase)
íntimas,
Nací en un ataúd de plata Y desde mi nacimiento,
Desde mi generación,
Ahuyenté al lector
Estúpido no tan estúpido
Pero observando:
sin él la literatura acaba:
qué pavada.
En el ataúd de plata se abría una mirilla,
Bastaba para ello una brizna de pincel
O el pulsar leve de una sola pestaña:
Ahí estaba yo, gordo y amamantado, con los Carrillos blancos
Y pliegues en cascada cuya ocurrencia era recubrir
El ombligo: impúdico, por alguna razón
... en una generación...
"Criarlo sin chupete
Porque visto de frente o de perfil
Un bebé pegado a esa goma
Ya dibuja el futuro
Oratorio de un imbécil"
.. .en una generación...
Todo se percibía, escuchaba, balanceaba, sentía,
chupaba, ingería
En el ataúd de plata
Entre las mantillas molestas y la crema prenupcial
del excremento
...en una generación...
Con un hermano genial cuando a mí iban a gustarme
los perros como yo,
Inocuos en la noche que ladra, con una hermana
hermosa y tan querida (qué infamia),
Y con un padre: delirio extremo.
Pero actual la madre viene hacia mí
Preñada por los espigas del sarcasmo
Amoroso como no podría serlo más
Y apoyándose semejante a una stebánida
En su báculo de fresno.
Tal vez me equivoqué desde el vamos, pero nadie
es tan torpe.
En manos del médico me vuelvo golondrina, carne sutil y atenta
esta es una manera de decir
y también una manera de pensar
culpable y al mismo tiempo
irresponsable
absolutamente irresponsable
culpable y dos
irresponsable
tres
un veredicto
dictado, consumido y consumado
cuatro
lo que es yo
odia los juegos de palabras
y el aura concupiscente
unida a eso que se llama
significativo utensilio tipográfico
distribuciones varias
puntos ausentes
y la duda siempre
entre "joya" o "antibiótico"
cuando lo mejor
lo mejor en lo decisivo
estuviere tal vez
en la llana aspiración a un buen verso
expulsar ahora el aire
en un diálogo más amoroso
amante heraldo enviado
con el lector amable
pero el beso entre dos hombres
tiene más perlas que un rosario
expulsar ahora el bulto bello
cuidado
El destino olfatea.
El que está solo en una pieza sabe que por algo está
solo y está pieza.
Un amor del ser, fundamental, un amor de repugnancia
carismática.
Estados de memoria muy intensos durante los cuales
no se recuerda nada.
La gracia ocurre al jugar con la hipótesis inverificable.
Entiendo la piel del asno, sus oriundos pelos,
Pero tengo problemas de otro orden.
La forma de poema es una desgracia pasajera.
2En el templete circular de Hermes Chano...
había una vez un anciano venerable.
Un coetáneo que al mismo tiempo era contemporáneo
y quería que su hijo tuviera un cargo,
alto se sobreentiende en lo posible.
Lo tuvo en el manejo de cadáveres sin ser médico,
tampoco enterrador.
Gozan los símbolos a los pies del camello, en la arena,
pero no es tan fácil mutilar:
sobrevienen sin posibilidad.
La goma de mascar, en el cenicero, germina lo contrario
de su propio ser.
Por suerte un pseudónimo grisa las miradas.
Sí
Dama ridicula
Másmédula
Los viejos no saben qué hacer con sus vidas
aunque tengan el mar a dos pasos
el espigón de portland
o la escollera de piedra: alta
y no groseramente autoerótica,
pero precipitada hacia las olas antiguas.
Ahora, el que mira se despoja del velo gris.
Dossier escondido,
un tumulto en la avería.
Representa.
Este es el escándalo del lado de la comedia.
O el placer abominable, Hijo,
de estrujar la despedida con un rictus de llanto.
Lo que fracasó en el tálamo, el gato
y unas bragas de nodriza
mientras los cuerpos giles luchaban por el premio.
Ahora no hay desierto suficiente.
Falta el nunca del más allá
o sobran dos sudarios,
mortajas de cultos opuestos.
Ni siquiera.
Los cuerpos giles compartieron el pastel.
Y proseguir es tremendo.
Quedarían solamente
los indomables defectos de cualquier traducción.
En cambio, un clítoris magnífico se lanza a la aventura:
mejor así,
El pene exagera los anhelos.
LAMBORGHINI, Osvaldo. Poemas 1969-1985. Buenos Aires, Sudamericana: 2004.